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Enquanto EUA reabrem usinas nucleares, China já resolveu grande limitação para desenvolvimento da IA: energia

Subsídios, energias renováveis ​​e linhas de transmissão: a infraestrutura energética da China já é sua maior vantagem

Imagem | Pixabay e Hanwha
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PH Mota

Redator
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Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

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"A China vai vencer a corrida da inteligência artificial", alertou Jensen Huang, CEO da Nvidia. Muitos acharam que ele estava exagerando, interessado em impulsionar a demanda por seus chips, mas, como explicou a analista June Yoon em sua coluna para o Financial Times, o argumento de Huang contém uma verdade incômoda: a disponibilidade de eletricidade — e não de chips — está se tornando o fator crítico para o desenvolvimento da IA.

Um modelo como o GPT-4 pode consumir mais de 460 mil megawatts-hora por ano, o equivalente ao consumo de energia de 35 mil residências americanas, segundo estudo. Os data centers do mundo — já colossais — podem dobrar seu consumo de eletricidade até 2030, e isso muda as regras do jogo.

Chips em excesso, falta de tomadas

A corrida pela IA começou com a febre das GPUs. As grandes empresas de tecnologia saíram comprando todos os chips da Nvidia disponíveis, mas logo descobriram algo mais preocupante: não havia tomadas suficientes para conectá-los. O próprio Satya Nadella, CEO da Microsoft, afirmou: "O maior problema que temos agora não é o excesso de chips, mas sim a energia".

A demanda por eletricidade disparou tanto que Google, Microsoft e Amazon já estão considerando construir reatores nucleares para manter seus servidores funcionando. O paradoxo resume bem o momento: a liderança digital do Ocidente tropeça em um limite físico, o da energia barata.

June Yoon levanta uma questão que redefine o mapa tecnológico: e se a corrida da IA ​​não tiver nada a ver com chips, mas com eletricidade? Se o século passado foi definido pelo petróleo, este será definido pela energia atual.

A China não vive mais do petróleo: ela o gera. Passou de um petroestado dependente do petróleo bruto a se tornar o primeiro eletroestado do planeta. Mais de um quarto de sua eletricidade provém de fontes renováveis ​​e sua rede elétrica cresce a uma velocidade incomparável. Agora, essa soberania energética impulsiona uma nova frente: a inteligência artificial.

Como a fórmula foi descoberta?

Desde setembro, o governo chinês subsidia em até 50% os custos de energia de data centers que utilizam chips nacionais. Províncias do interior — Guizhou, Gansu, Mongólia Interior — tornaram-se os "corações elétricos" da IA ​​chinesa: a energia ali é abundante e barata, e os governos locais oferecem tarifas historicamente baixas de apenas 0,4 yuan por quilowatt-hora.

A medida tem um propósito duplo:

  • Compensar a menor eficiência dos chips nacionais em comparação com os da Nvidia.
  • Promover a independência tecnológica em meio à guerra comercial.

Como detalhado pela Bloomberg, essas regiões são conectadas por linhas de ultra-alta tensão (UHV) que transportam energia renovável do interior para as áreas costeiras, onde grandes empresas de tecnologia como Alibaba, Tencent e ByteDance estão concentradas. O objetivo é claro: garantir energia abundante e de baixo custo para clusters de treinamento de IA. De acordo com a Rystad Energy, o consumo de energia dos data centers pode mais que dobrar antes de 2030, chegando a 1,8 mil terawatts-hora em 2040 e Pequim está se preparando para absorver essa demanda.

O resultado é um ecossistema energético planejado, centralizado e projetado para escalar a IA. Um exemplo é o Parque Solar de Talatan, que se estende como um mar de espelhos metálicos: mais de 600 quilômetros quadrados de painéis combinados com parques eólicos e hidrelétricos. De lá, a energia viaja por linhas de alta tensão até os data centers no litoral. É um cartão-postal do novo poder chinês: sol, vento e silício.

A vantagem elétrica da China

A estratégia também está funcionando nos mercados. Segundo a Bloomberg, as ações de empresas de energia chinesas subiram até 40% em uma semana, impulsionadas pela demanda de data centers de IA. O UBS prevê que a demanda por eletricidade na China crescerá 8% ao ano até 2028.

Enquanto isso, em Washington, o governo Trump lançou um Plano de Ação para IA para acelerar a construção de data centers e remover obstáculos a projetos de energia. Mas, como apontam os analistas do Financial Times, os avanços em chips estagnam em um dígito, enquanto a energia renovável chinesa cresce a dois dígitos a cada ano.

Na corrida pela inteligência artificial, os chips são o cérebro, mas o coração pulsa com eletricidade. Os Estados Unidos mantêm a liderança e possuem os melhores semicondutores (por enquanto); a China, a rede que os mantém funcionando.

Como escreveu June Yoon, todas as superpotências tecnológicas da história — da Inglaterra do carvão à América do petróleo — foram construídas sobre uma fonte de energia barata. Hoje, a inteligência artificial precisa de eletricidade como antes precisava de vapor e nesse novo cenário, a China parece ter encontrado a chave: conectar-se ao futuro antes de qualquer outro país.

Imagem | Pixabay e Hanwha

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