Quase três décadas se passaram desde a criação do Tamagotchi, mas a febre ainda não começou a diminuir. Com 100 milhões de unidades vendidas, a máquina da Bandai é um dispositivo para os nostálgicos dos anos 90, sim, mas também um objeto cobiçado por novos colecionadores, como demonstram seus lançamentos mais recentes. E o que comprova sua validade atual: o dispositivo, que precisa ser cuidado como uma criança com problemas de incontinência e insônia, continua gerando histórias alucinantes.
Tamagotchi: origens humildes
Em 1996, Aki Maita, uma designer de jogos de 31 anos que trabalhava para a Bandai, teve a ideia do Tamagotchi ao ver um comercial de TV em que uma mãe impedia o filho de levar uma tartaruga para a escola. Isso a inspirou a criar um animal de estimação digital que coubesse no bolso e exigisse cuidados reais. Ela desenvolveu esse conceito com a ajuda de Akihiro Yokoi: uma criatura virtual que precisava ser alimentada, cuidada e protegida.
Sucesso imediato
Com seu lançamento internacional no ano seguinte, o Tamagotchi rapidamente se tornou um fenômeno. Novos recursos e melhorias logo começaram a aparecer para o dispositivo. Em 2004, diferentes Tamagotchis se comunicavam (e podiam até se casar) via infravermelho; em 2008, surgiram as telas coloridas; e, mais tarde naquela década, a tela comum se tornou uma tela LCD sensível ao toque, com Wi-Fi e diversas opções de conectividade implementadas. Mais de trinta modelos diferentes de Tamagotchi foram criados ao longo de sua história.
A nostalgia dos anos 90 funciona
Embora os Tamagotchis nunca tenham realmente desaparecido, como demonstrado pelo Tamagotchi Paradise — que chegou às lojas neste verão e inclui um dispositivo com zoom para cuidar das criaturas de uma perspectiva cósmica e microscópica — sua principal explosão de fama veio nos anos 90.
O segmento de mercado Kidult, que está revivendo as linhas de brinquedos como nunca, tem duas variáveis que os Tamagotchis habilmente cobrem: por um lado, eles alimentam e atendem às necessidades dos estímulos nostálgicos dos millennials, convencidos de que nunca viverão uma época tão feliz quanto suas infâncias e primeiros anos; por outro lado, os Tamagotchis envolvem assumir responsabilidades indiretas ao cuidar de uma criatura que exige atenção constante. Perfeito para uma geração que, em muitos casos, está resignada a não ter filhos.
Saber evoluir
Um dos grandes segredos do sucesso dos Tamagotchi tem sido a adaptação às mudanças dos tempos. E não estamos falando apenas da incorporação de Wi-Fi ou telas sensíveis ao toque, mas também de suas mecânicas, que evoluíram de meros cuidados e limpeza de um embrião alienígena para mecânicas de jogo claramente inspiradas em Pokémon (conectando-se, assim, com outro fetiche nostálgico millennial).
Em Tamagotchi Paradise, temos cinquenta criaturas divididas em três ambientes (céu, terra e água), com três delas escondidas no início do jogo, em um curioso paralelo com os Pokémons lendários e outras raridades.
A capacidade de acasalar Tamagotchi abre caminho para o nascimento de 50 mil criaturas diferentes, cada uma com características herdadas de seus pais. Outra mecânica não diretamente inspirada em Pokémon, mas conectada aos conceitos de caça, criação e cuidado das criaturas da Nintendo.
Grandes histórias
O que impressiona sobre os Tamagotchis é que eles geraram sua própria mitologia e histórias únicas, muitas vezes decorrentes da quebra de um tabu em relação aos animais de estimação: apesar de virtuais, esses pets digitais encapsulados também morrem. Por exemplo, existem sites funerários que homenageiam criaturas falecidas e fóruns com centenas de páginas ainda ativas em sua memória.
E uma anedota incrível: em 1997, uma menina enterrou seu Tamagotchi em um caixão de madeira em um cemitério para animais de estimação de verdade. Logo, o dono do cemitério começou a receber outros Tamagotchis em seus pequenos caixões e teve que converter e adaptar o cemitério.
Imagem | Álex Alcolea
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