Grupo de cientistas propôs infectar outro planeta e observar o que acontece como experimento e já escolheram candidato

Em vez de tomar cuidado para não contaminar outros planetas com microrganismos terrestres, este experimento consistiria em fazer o oposto

Imagem | Fish trap
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Enquanto os rovers da NASA continuam buscando pistas em Marte, as luas geladas de Júpiter, Europa, e Encélado, de Saturno, surgiram como as principais candidatas a abrigar vida microbiana fora da Terra, no sistema solar. Mas o que faremos se descobrirmos que elas não são habitadas?

Ideia controversa

Encélado, com seu oceano subterrâneo e a presença confirmada de elementos cruciais para a vida, é um foco constante de fascínio científico. A Agência Espacial Europeia planeja enviar uma sonda para lá, que chegará em 2054.

Prevendo a decepção, um grupo de astrobiólogos lançou uma proposta ousada: se Encélado for desabitado, podemos considerar "infectá-lo" deliberadamente com micróbios terrestres para observar como a vida se espalha em um mundo habitável, mas intocado.

Experimento sem precedentes

Desde que começaram a explorar o sistema solar, as grandes agências espaciais têm levado muito a sério a não contaminar outros planetas e satélites, construindo suas sondas em salas limpas para reduzir o número de bactérias que poderiam sobreviver a bordo.

Este experimento consistiria em fazer o oposto. Seria a primeira tentativa em escala planetária de construir uma biosfera. Isso nos forçaria a aprender como montar ecossistemas complexos do zero, quais organismos são mais adequados para isso e como eles se comportam em condições extraterrestres.

Por que semear vida em outro mundo?

Charles S. Cockell, Holley Conte e M. Dale detalham sua ideia num artigo publicado pela revista Space Policy. O grupo argumenta que, se missões futuras confirmarem a ausência de vida nativa em Encélado, a inoculação deliberada do satélite nos ajudaria a entender como a vida se espalha em oceanos permanentemente escuros.

A inoculação nos permitiria investigar como os ecossistemas bacterianos se organizavam na “Terra Bola de Neve” ou mesmo se as fontes hidrotermais de uma Terra primitiva poderiam ter sido o local onde a vida surgiu em nosso planeta durante as épocas Hadeana ou Arcaica Inferior.

Economia multiplanetária

Entrando em um terreno mais especulativo, uma Encélado habitada poderia, em teoria, se tornar uma fonte de materiais para a exploração do sistema externo, caso a humanidade conseguisse se tornar uma espécie multiplanetária.

Os autores até mencionam a engenharia de organismos como uma opção para tornar a nova biosfera lucrativa, transformando o oceano da lua de Saturno em uma "usina de produção de biocombustível", assim que nossas bactérias metanogênicas prosperarem. A biologia sintética poderia até ser usada para projetar organismos otimizados para Encélado.

Mais rápido do que terraformar Marte

O experimento seria, obviamente, um empreendimento multigeracional, mas, ao contrário da terraformação de Marte, que levaria séculos, inocular um oceano alienígena poderia ser realizado com a tecnologia atual e seria "muito mais simples e menos dispendioso".

Mas também há implicações éticas. Quantas buscas são necessárias para garantir que Encélado seja realmente desabitada? Tal experimento é mais valioso do que estudar os processos geológicos e geoquímicos de um mundo virgem?

E talvez também valha a pena perguntar: seremos capazes de proteger uma segunda biosfera, além da da Terra, por várias gerações? Não custa nada pensar a longo prazo, mas primeiro precisamos intensificar nosso senso de responsabilidade para com a biosfera da Terra.

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