Na década de 1920, o zoólogo soviético Nikolai Vereshchagin iniciou um ambicioso projeto para "reviver" a fauna do Cáucaso. A ideia, parte de uma estratégia conhecida como "aclimatação", era introduzir espécies não nativas para enriquecer a biodiversidade local e gerar benefícios econômicos com a caça e o comércio de peles. Sete décadas depois, o resultado de um desses experimentos se revelou um desastre ecológico que ainda não tem solução.
A história é mais um exemplo assustador dos riscos de introduzir espécies exóticas sem planejamento. O protagonista desta catástrofe é o ratão-do-banhado (ou nutria), um roedor gigante nativo da América do Sul (que também habita o Brasil).
Apenas 213 espécimes foram transportados da Argentina e soltos nos pântanos do Azerbaijão. Quase um século depois, a devastação causada por eles é imensa.
De casaco de luxo a praga incontrolável
O motivo original para trazer o ratão-do-banhado foi sua pele de alta qualidade, usada para confeccionar casacos e chapéus de luxo. O que começou como um projeto de exploração de recursos rapidamente se tornou um pesadelo ecológico. Sem os predadores naturais de seu habitat original, os roedores se adaptaram perfeitamente e se multiplicaram em um ritmo alarmante.
O ratão-do-banhado é hoje considerado uma das 100 espécies invasoras mais perigosas do mundo. Com adultos que chegam a 60 cm de comprimento (sem contar a cauda de 30 cm) e pesando mais que um cachorro Jack Russell, eles são máquinas de destruição de habitat. Seus dentes laranjas, que nunca param de crescer, são usados para devastar a vegetação nativa das zonas úmidas.
Um "ponto crítico" de biodiversidade ameaçado
O impacto no Azerbaijão tem sido enorme, especialmente porque o Cáucaso é considerado um dos 25 "pontos críticos" de biodiversidade do planeta. Ao destruir a vegetação, os roedores também eliminam habitats de nidificação de aves ameaçadas, como o pato-real e o grou-siberiano.
Estudos mostram que os roedores gigantes chegam a esmagar ninhos simplesmente ao descansar sobre eles.
A espécie continua a se espalhar e já migrou para países vizinhos, tornando o controle ainda mais difícil. Enquanto isso, os ecologistas locais não conseguem nem mensurar o tamanho exato da população de ratões-do-banhado, o que impede a criação de estratégias eficazes de mitigação.
O desafio de controlar a praga
Atualmente, especialistas sugerem implementar programas de recompensa pela captura, semelhantes aos usados na Louisiana (EUA), onde se paga por cada cauda de ratão-do-banhado entregue.
Ironicamente, embora organizações como o WWF Azerbaijão apoiem a ideia, o sistema de taxas do país desestimula a caça, exigindo que os caçadores paguem uma taxa por "danos ambientais".
A história do ratão-do-banhado no Cáucaso serve como um lembrete sombrio dos perigos de brincar com ecossistemas. O que começou com boas intenções, há quase 100 anos, deixou um legado de destruição que ambientalistas hoje lutam, com poucas ferramentas, para tentar reverter.
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