3I/ATLAS mostra sinais de aceleração não gravitacional: algo o empurrou, e acreditamos saber o que foi

Os dados do observatório ALMA revelam que o objeto interestelar desviou-se da trajetória que deveria ter seguido se estivesse sendo influenciado apenas pela gravidade do Sol

Cometa 3I/ATLAS / Imagem: NASA / SOFIA / Lynette Cook
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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O terceiro objeto interestelar que descobrimos no Sistema Solar continua dando o que falar. À medida que 3I/ATLAS se afasta do Sol e volta a ser visível através dos telescópios, cada movimento seu provoca um tsunami de especulações. E ainda restam semanas de novas observações.

A notícia que desencadeou as teorias mais excêntricas é o fato de que o cometa apresentou uma leve, mas estatisticamente significativa, “aceleração não gravitacional”. Algo, além da atração gravitacional do Sol e dos planetas, empurrou o 3I/ATLAS.

Isso aconteceu no último dia 29 de outubro. Os dados do observatório ALMA, analisados por um engenheiro do JPL da NASA, revelam que o objeto desviou-se “quatro segundos de arco em ascensão reta” da trajetória que deveria ter seguido se estivesse sendo influenciado apenas pela gravidade do Sol.

A explicação mais provável

A notícia deu margem aos que tentam enxergar uma “assinatura tecnológica” em tudo o que o objeto interestelar faz. No entanto, a explicação mais provável não é que o 3I/ATLAS seja uma nave alienígena: há uma alternativa puramente natural que os astrônomos conhecem bem.

O desvio do objeto, equivalente a dez vezes o raio da Terra em um mês, se encaixa com uma aceleração natural que ocorre em cometas muito ativos durante sua passagem pelo Sol: o gelo sublimado atuou como um propulsor.

A física é simples: quando o cometa se aproxima do Sol, a radiação solar aquece seu núcleo. O gelo em sua superfície (seja de água, monóxido de carbono ou dióxido de carbono) passa diretamente do estado sólido para o gasoso, um processo conhecido como sublimação.

Esse gás escapa violentamente para o espaço através de fendas ou zonas ativas na superfície, formando jatos ou “jets”. Pela terceira lei de Newton (ação e reação), esses jatos de gás agem como pequenos motores de foguete, empurrando o núcleo do cometa na direção oposta e alterando sua órbita.

Daí o brilho tão intenso

Outra das anomalias recentemente observadas em 3I/ATLAS é que ele se tornou extremamente brilhante antes do esperado — e com uma tonalidade intensamente azul.

Segundo um estudo pré-publicado em arvix.org, a mudança é compatível com um brilho dominado pela emissão de gases, o que demonstraria que 3I/ATLAS é um cometa extraordinariamente ativo, que acionou seus “motores de sublimação” ao se aproximar do Sol e começou a liberar material a um ritmo frenético.

Avi Loeb não está convencido. O controverso cosmólogo da Universidade de Harvard fez seus próprios cálculos para determinar quanta massa o 3I/ATLAS teria de perder para produzir essa aceleração específica — e descobriu que, no mínimo, teria de ter perdido um sexto de sua massa total.

Como a massa de 3I/ATLAS é estimada em pelo menos 33 bilhões de toneladas, o cometa teria de ter perdido 5,5 bilhões de toneladas de gás e poeira ejetadas no espaço em questão de semanas — o que deve nos levar a observar uma nuvem extremamente brilhante de gás e poeira ao seu redor nas próximas semanas.

O momento crucial

3I/ATLAS passará pelo ponto mais próximo da Terra em sua órbita em 19 de dezembro. A uma distância de 269 milhões de quilômetros, a Rede Internacional de Alerta de Asteroides e os telescópios espaciais Hubble e James Webb estarão observando com atenção.

Eles terão a última palavra. Se observarem uma nuvem colossal de gás, o caso estará encerrado: 3I/ATLAS é um cometa natural — embora um dos mais estranhos e ativos que já tenhamos visto. Se não virem nada, o mistério dos visitantes interestelares poderá se intensificar.

Imagem | NASA / SOFIA / Lynette Cook

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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