O jogo do bicho continua fora da lei, mas agora conta com um aliado: a tecnologia

Mesmo proibido desde 1941, o tradicional esquema de apostas se atualiza e encontra no digital uma forma de sobreviver e crescer

Crédito de imagem: Xataka Brasil via Perplexity
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João Paes

Redator
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João Paes

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Escreve sobre tecnologia, games e cultura pop há mais de 10 anos, tendo se interessado por tudo isso desde que abriu o primeiro computador (há muito mais de 10 anos). 

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O jogo do bicho sempre foi uma contradição ambulante: ilegal no papel, cotidiano na prática. Um daqueles costumes brasileiros que atravessam gerações e sobrevivem a governos, crises econômicas,  investigações policiais e, nos últimos tempos, diversas séries de TV. Ultimamente, essa “loteria clandestina” também entrou em um novo capítulo de sua história — um que não passa mais por talões de papel amassados, mas sim pela praticidade tecnológica de smartphones.

Se antes a rotina era quase folclórica — o cambista na calçada, a cartela rabiscada, o papel recolhido no fim do dia — hoje o processo lembra mais um app de delivery. Basta abrir o aplicativo, escolher o bicho, confirmar a aposta e receber um comprovante impresso, enquanto o registro oficial fica salvo no sistema. A operação segue ilegal, mas agora é tão prática quanto qualquer fintech.

Um cambista com 13 anos de experiência, que aceitou falar ao Campo Grande News sem se identificar, descreve essa guinada tecnológica como inevitável. No Mato Grosso do Sul, onde atua, o aplicativo já domina operações em Campo Grande e Dourados. E segundo ele, o software da cidade vizinha é ainda mais eficiente que o da capital. “Chegou de cima. A gente não teve opção de continuar no papel”, diz, não sabemos se foi em tom resignado ou só tentando acompanhar o ritmo de um mercado que não para.

A modernização não é só conveniência: vira também sensação de segurança. Antes, perder um talão significava perder dinheiro — e discussão. Agora, com a aposta registrada e uma via impressa em mãos, o apostador sente que a chance de prejuízo caiu. Não que isso apague o risco legal: o jogo do bicho segue enquadrado no Decreto-Lei nº 3.688, com previsão de multa e até um ano de prisão. Ainda assim, a repressão esbarra na realidade: aceitação social, denúncias esparsas e investigações complicadas.

O delegado Paulo Henrique Sá, da Deops, admite a dificuldade. Máquinas são apreendidas, inquéritos são abertos, mas o jogo continua firme, quase como parte da paisagem urbana — tão presente quanto bancas de jornais ou trailers de pastel.

E é justamente nas ruas que a tradição se confirma. Em Ribas de Rio Pardo, um casal diz apostar há tanto tempo que já perdeu a conta — menos do prêmio de mais de R$ 10 mil que um dia levaram. “Tem que ter sorte. Às vezes compensa”, resume um deles.

No fim, o cenário é paradoxal: uma prática ilegal que se moderniza mais rápido do que muitas atividades plenamente regulamentadas. O jogo do bicho nasceu há mais de um século para salvar um zoológico carioca — e agora sobrevive graças ao seu novo habitat: a nuvem, fazendo valer não só o escrito, mas o que foi impresso.


Crédito de imagem: Xataka Brasil via Perplexity

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