Cinquenta e cinco anos atrás, um engenheiro construiu uma motocicleta revolucionária em seu porão e a batizou com o nome de um cachorro; ele acabou salvando uma marca italiana lendária

A Moto Guzzi, nascida em um porão, quebrou 19 recordes e trouxe o espírito esportivo de volta a Mandello

Imagens | Motorbox, Raresportsbike
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Fabrício Mainenti

Redator

A Moto Guzzi não é uma marca que vende tanto quanto a Ducati ou a Aprilia, mas continua sendo uma marca cult. Na década de 1970, a Moto Guzzi renasceu das cinzas com uma moto nascida em circunstâncias quase clandestinas.

Era a V7 Sport, e sua história é cheia de reviravoltas: projetada por Lino Tonti em seu porão, ela trouxe de volta o espírito esportivo a Mandello del Lario e marcou uma era com seu chassi vermelho e 19 recordes mundiais de velocidade; quase nada.

Ela rivalizava com a Kawasaki

Foi o renascimento de uma marca que havia perdido seu fundador e sua direção. Depois de anos longe das corridas e sob a gestão da SEIMM, a Moto Guzzi precisava de mais do que uma boa ideia: precisava de uma dose de orgulho. E essa dose veio de Tonti, que, junto com seu inseparável colaborador Alcide Biotti, decidiu, literalmente, descer ao porão para construir o chassi de uma nova moto esportiva do zero.

O resultado foi uma obra de engenharia artesanal: um quadro de berço duplo redesenhado para abrigar o motor V-twin de Giulio Cesare Carcano, mas com as proporções, a rigidez e a geometria típicas de uma moto de corrida. Essa estrutura, soldada peça por peça na penumbra de uma oficina improvisada, daria origem à V7 Sport, uma moto que ganharia o apelido de "Dachshund" por sua agilidade e perfil longo e baixo. Evidentemente, porque se assemelhava ao cachorro.

Do porão... para a pista

Antes de cair na estrada, o protótipo foi levado para a pista. Em 1969, com Umberto Todero no comando, a moto estabeleceu 19 recordes mundiais de velocidade em sua categoria. A mensagem era clara: a Moto Guzzi estava de volta. As metas iniciais eram ambiciosas (750 cc, mais de 200 km/h e menos de 200 kg), e o resultado final não demorou muito: 748,4 cc, 72 cv SAE e 208 km/h reais. Na era do Honda Four e do Kawasaki Mach IV, isso era uma declaração de intenções.

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Em 1971, a pré-produção em série chegou com 150 unidades com chassis pintados de vermelho, símbolo do orgulho artesanal da Tonti. Cada uma foi enviada às concessionárias para ser testada, exibida e sonhada. Naquele mesmo ano, a versão final foi apresentada em Milão e provocou um frenesi entre os entusiastas. Independentemente do preço (que girava em torno de € 4 mil/R$ 25 mil), você queria uma V7 Sport porque era mais do que apenas uma motocicleta. Era uma história viva da resistência e do talento italianos.

Seu motor de 90 graus, carburadores Dell'Orto, amortecedores Koni e rodas Borrani compunham uma sinfonia mecânica que combinava elegância, precisão e personalidade. Mas o verdadeiro segredo continuava sendo aquele chassi de porão, que definiria o padrão para as Guzzis por décadas, e quase até hoje.

A V7 Sport, arrancada daquele porão sombrio, não só recolocou a Moto Guzzi no mapa, como também a elevou ao Olimpo das motos esportivas clássicas. E tudo começou num porão, com dois homens, um motor vazio e uma ideia: que a velocidade pudesse ter alma novamente.

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