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A maioria das montadoras precisa de décadas para sair do “vale da morte”; a Xiaomi só precisou de dois carros elétricos

A história dos carros da Xiaomi parecia boa demais para ser verdade. E está se tornando realidade.

Xiaomi vai sair do vermelho antes que as concorrentes / Imagem: Xiaomi
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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O Xiaomi SU7 surpreendeu toda a indústria e levou a empresa a fazer algo pouco comum: recomendar aos clientes apressados que comprassem carros da concorrência. A jogada esconde uma estratégia, mas é um grande exemplo do sucesso da companhia com seu segundo carro e aposta no luxo, o YU7. A empresa perdeu 800 milhões no primeiro ano de vendas de carros, mas essa notícia apenas antecipava o que viria depois.

Quando perder 500 dólares por carro vendido é uma boa notícia

A Xiaomi apresentou os resultados financeiros do segundo trimestre fiscal, trazendo ótimas notícias para sua divisão de carros. A divisão Auto comercializou 81.302 veículos no período e teve um prejuízo de 41 milhões de dólares. Isso representa uma perda de 507 dólares por carro vendido. É uma excelente notícia pelo ritmo com que a empresa está se aproximando da lucratividade.

Nos últimos trimestres, a Xiaomi vinha registrando perdas médias de 1.376, 905 e 507 dólares por carro vendido, após prejuízos de 5.250 dólares no terceiro trimestre de 2024. Ou seja, agora perde apenas um décimo do que perdia até novembro. E não é o único número positivo nos resultados, junto ao crescimento nas vendas: a margem bruta subiu de 15,4% no segundo trimestre de 2024 para 26,4% este ano. Contribuiu para isso o lançamento do SU7 Ultra, que ajudou a elevar o preço médio de venda em 10% no ano. Com ele, a Xiaomi queria disputar o mercado de luxo com a Porsche — e conseguiu.

De acordo com seus resultados financeiros, a Xiaomi está muito próxima de começar a lucrar com sua divisão de carros De acordo com seus resultados financeiros, a Xiaomi está muito próxima de começar a lucrar com sua divisão de carros

Por que é importante

A Tesla é a única fabricante 100% elétrica que conseguiu sair do “vale da morte”, o período inicial em que startups queimam dinheiro em abundância sem gerar praticamente receita. Marcas como Rivian, Lucid e Ford (em sua divisão elétrica) acumulam perdas de 22,2 bilhões, 11 bilhões e 10,5 bilhões de dólares, respectivamente. Que a Xiaomi hoje perca apenas 41 milhões de dólares por trimestre, com preços tão competitivos, mostra o equilíbrio de sua aposta pouco mais de um ano após o lançamento.

Nem todas as empresas contam com o apoio que a Xiaomi teve em sua trajetória automotiva. Nesse sentido, segundo Bill Russo, CEO e fundador da Automobility, um fator determinante para o sucesso da Xiaomi está em sua agilidade de produção, que se beneficiou amplamente da parceria com a Beijing Auto, uma estatal que já possuía uma escala de produção enorme antes da chegada da Xiaomi.

A empresa pôde acessar uma cadeia de produção e componentes de alta qualidade já disponíveis no mercado graças a investimentos feitos pela matriz e pelo fundador ao longo dos anos em empresas como a Momenta. Outro fator chave, segundo John Helveston, professor especializado na indústria de veículos elétricos chineses, é a escala: é um feito conseguir fabricar um elétrico em tão pouco tempo, mas é preciso observar a evolução. “A indústria automotiva é dura e o sucesso se mede em anos de resistência, não na rapidez do primeiro lançamento”, explicou ele.

Em um ano, a Xiaomi passou de presença em 30 cidades com 87 lojas para 92 cidades com 335 lojas. Em um ano, a Xiaomi passou de presença em 30 cidades com 87 lojas para 92 cidades com 335 lojas

A Xiaomi já tinha muito caminho pavimentado, sim, mesmo sendo nova no setor de carros elétricos. Por um lado, embora seja possível comprar os veículos online, a empresa já conta com uma ampla rede de distribuição na China: 335 centros de vendas em 92 cidades, crescendo a um ritmo vertiginoso. Já não é a companhia que conhecíamos por vender tecnologia extremamente barata. Embora ainda mantenha parte dessa estratégia, nos últimos anos também se concentrou no segmento premium, com o apoio de marcas de luxo como a Leica.

Entre tantas boas notícias, a Xiaomi enfrenta um problema: longos tempos de espera e calendário limitado. Isso explica por que, na China, o SU7 é o rei da revenda, custando mais que um novo e com até 10 meses de espera. Uma produção limitada também afetou por anos fabricantes como a Tesla, e a Xiaomi tem na escala da BYD o melhor exemplo de como crescer. Em 2024, a BYD conseguiu vender 4 milhões de veículos (em comparação aos 350 mil que a Xiaomi espera vender este ano).

Imagem | Xiaomi

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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