Em março de 2023, a temperatura média do Oceano Atlântico começou a bater recordes. Nos meses seguintes, a temperatura média da superfície do oceano permaneceu acima de todos os recordes, mas foi no verão daquele ano que a situação se tornou absolutamente anômala, com a temperatura média atingindo 25,37 °C.
Quase dois anos
Quase dois anos se passaram, e agora um novo estudo revelou os ingredientes por trás dessa situação extraordinária. Embora as mudanças climáticas possam ter desempenhado um papel significativo, o estudo aponta para uma combinação de ventos anômalos e alta radiação solar.
31 de agosto
Para entender a anomalia, podemos começar com uma data: 31 de agosto de 2023. Naquele dia, a temperatura média no Atlântico Norte era de 25,37 °C, de acordo com o banco de dados Climate Reanalyzer da Universidade do Maine. Isso é 1,15 °C acima da temperatura média no mesmo dia durante o período de 1991 a 2020; e 1,39 °C acima da média de 31 de agosto entre 1982 e 2010.
O segundo agosto mais quente neste contexto seria 2024. Naquele ano, a temperatura máxima média da água atingida foi de 25,1°C (77°F), em 27 de agosto. Naquele dia, a anomalia de temperatura foi de 0,88°C (0,88°F) ou 1,12°C (1,12°F), dependendo da temperatura de referência utilizada.
Camadas diferentes
Para entender o que aconteceu, precisamos ter em mente que a água do oceano não é uniforme em termos de temperatura, densidade e salinidade. Nesse sentido, podemos distinguir uma camada superficial do restante do oceano. Essa camada seria mais quente como consequência direta da radiação solar, mas o grau em que ela acumula temperatura depende de outros fatores além da energia que recebe da nossa estrela.
Normalmente, essa camada se estende a profundidades entre 20 e 40 metros, explica a equipe responsável pelo estudo. Em 2023, a camada era muito fina, cerca de 10 metros. Quanto mais fina a camada, menos água há para "distribuir" a energia solar e, portanto, mais calor.
Certo, mas por que a camada superficial encolheu tanto? É aqui que os ventos, ou melhor, a falta deles, entram em ação. O vento é parcialmente responsável por movimentar as águas oceânicas, agitando-as e, assim, promovendo a interação entre as camadas. Nos meses de verão de 2023, os ventos no Atlântico estavam, segundo a equipe responsável pelo estudo, mais fracos do que o normal.
O peso das mudanças climáticas
A equipe indica que, embora essa "onda de calor marítima" tenha sido um evento extraordinário, as mudanças climáticas podem aumentar a frequência de tais eventos. Eles explicam que esse fenômeno pode desacelerar os ventos, o que facilitaria o acúmulo de calor na superfície do oceano.
Detalhes do estudo foram publicados em um artigo na revista Nature.
Enxofre e seus efeitos
Há outro fator que, embora não seja central para o estudo, também deve ser incluído na lista de fatores que contribuem para essa anomalia térmica: o enxofre, ou, novamente, sua ausência. Em 2020, houve uma mudança nas regulamentações de transporte marítimo que limitou as emissões de enxofre desse setor.
O problema surgiu porque a redução da presença desse poluente na atmosfera também reduz o número de partículas em torno das quais a umidade atmosférica pode se condensar, formando menos nuvens e aumentando a radiação solar que atinge a superfície do nosso planeta.
Consequências além da costa
A temperatura do Atlântico Norte afeta milhões de pessoas. Uma das correntes nessa região, a Circulação Meridional do Atlântico (AMOC), desempenha um papel fundamental em manter os invernos europeus frescos e não tão frios quanto os de latitudes semelhantes do outro lado do Atlântico.
Embora seja precisamente na região da América do Norte que o efeito do aquecimento do Atlântico seja mais preocupante, e isso se deve aos furacões, um dos principais ingredientes dessas tempestades tropicais é a superfície oceânica aquecida, que lhes permite capturar energia, o que significa que eventos como o de 2023 podem levar a temporadas de furacões particularmente destrutivas.
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