Há 25 anos o Uruguai vivia apagão atrás de apagão e era totalmente dependente de combustíveis fósseis importados, até que um professor foi contratado pelo governo

Graças a um planejamento energético contínuo e políticas de longo prazo, o Uruguai consolidou-se como referência mundial ao alcançar 99% de sua eletricidade proveniente de fontes renováveis, como eólica, solar, hídrica e biomassa

Energia solar. Créditos: 	Daniel Bosma/GettyImages
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Laura Vieira

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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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Nos anos 2000, o Uruguai enfrentava apagões frequentes e dependia quase integralmente de combustíveis fósseis importados para gerar energia, como gás e petróleo. Porém, o país acabou se tornando um dos exemplos mais bem-sucedidos de transição energética do mundo. A mudança começou quando o governo convidou o professor de física Ramón Méndez Galain para redesenhar todo o sistema elétrico do país, uma missão que parecia impossível, mas que acabou transformando o Uruguai em exportador de energia limpa e referência global em fontes de energia renováveis.

Plano de longo prazo sobreviveu a diferentes governos e garantiu estabilidade na transição

Mudar todo o sistema elétrico de um país não é algo simples, e no caso do Uruguai, só foi possível um planejamento consistente. A equipe liderada pelo físico Ramón Méndez Galain estruturou uma estratégia de longo prazo que começou em 2008, com metas claras e acordadas por diferentes partidos, garantindo que a política energética não fosse desmontada a cada eleição.

Além disso, modelos de simulação ajudaram a mostrar na prática que era possível combinar fontes como vento, sol, hidrelétricas e biomassa sem comprometer a estabilidade da rede. Essa base técnica foi essencial para convencer autoridades, investidores e a população de que a mudança era possível, mas principalmente necessária.

Outro ponto é que as regras do mercado também foram reformuladas para priorizar fontes limpas. Em vez de direcionar subsídios ou incentivos pontuais, o país criou um ambiente que atraiu empresas, ampliou a infraestrutura e estimulou a competição entre projetos renováveis. O resultado foi uma transição mais apoiada em dados, planejamento e persistência política.

Energia renovável reduziu custos e transformou o país em exportador

A transformação não mudou apenas o sistema elétrico do país, mas também sua economia. Com a expansão de parques eólicos, usinas solares e sistemas de biomassa, o custo da energia caiu, novos empregos foram criados e o país deixou de depender de combustíveis fósseis importados. Como consequência disso, hoje, mais de 99% da eletricidade gerada no Uruguai vem de fontes renováveis. O que sobra acaba sendo exportado para países vizinhos, inclusive para o Brasil, reforçando a posição do Uruguai como fornecedor de energia limpa.

Uma curiosidade é que o sucesso do Uruguai, ironicamente, foi propiciado por um motivo paradoxal: como o país não tinha petróleo ou gás, cada crise energética gerava um impacto direto na economia. Isso acabou acelerando a decisão de investir em energias renováveis como uma estratégia para sobrevivência econômica. Essa missão que parecia impossível demonstrou que transições energéticas profundas, como a ocorrida no Uruguai, dependem principalmente de políticas públicas estáveis, transparência e continuidade.

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