Um fator comum entre todas as plataformas de streaming, além dos detalhes de catálogo, parece ser a busca pelo lucro oferecendo tarifas mais econômicas em troca de interrupções publicitárias. A Apple, no entanto, parece decidida a se diferenciar, o que sem dúvida pode lhe trazer benefícios tanto econômicos quanto de imagem — exatamente o que mais a favoreceria neste momento.
Eddy Cue, vice-presidente sênior de Serviços da Apple, confirmou em entrevista à Screen International que a empresa não tem planos de lançar uma assinatura do Apple TV com anúncios. A negativa não é definitiva, mas, por ora, essa é a decisão da Apple. Cue afirma que “não os incluiremos por enquanto. Não é uma recusa para sempre, mas, no momento, não há planos”.
Essa declaração surge em um contexto no qual praticamente todos os grandes concorrentes da Apple TV estão ampliando suas estratégias publicitárias, com cada vez mais planos com anúncios.
O streaming entrou no que poderíamos chamar de sua “era publicitária”. Mas a Apple quer se diferenciar a partir disso: acredita que, se conseguir manter um preço competitivo, os consumidores vão valorizar não ver seu conteúdo interrompido por anúncios.
É uma posição que se conecta diretamente com o DNA da marca: controle sobre a experiência do usuário, design sem fricções e uma aposta na percepção de valor premium — mesmo que o preço não seja o mais baixo do mercado. É a mesma filosofia aplicada ao Apple Music, que nunca competiu com versões gratuitas financiadas por publicidade.
O que vem por aí
A decisão da Apple ganha sua verdadeira dimensão quando se observa o que está acontecendo no restante da indústria. Uma das próximas tendências que está prestes a chegar são os anúncios que são exibidos mesmo quando o conteúdo está pausado. Por enquanto, nos EUA, o Peacock é quem está experimentando esse formato de publicidade, assim como a Netflix em alguns territórios.
A Disney+ também demonstrou interesse em incorporar a modalidade ao seu catálogo. Ou seja, o que se aproxima para um futuro bem próximo são anúncios cada vez mais invasivos, ao estilo do YouTube ou do Spotify em suas contas mais econômicas — algo que, sem dúvida, valoriza ainda mais decisões como a da Apple.
O Apple TV custa atualmente R$ 29,90 por mês no Brasil, enquanto nos EUA o preço chegou a 12,99 dólares (R$ 68). À primeira vista, pode parecer caro na comparação com os planos básicos da concorrência. Mas é aqui que a Apple executou uma manobra de posicionamento interessante: ela não compete no segmento mais barato do mercado, e sim oferece recursos premium a um preço intermediário. Seu trunfo é que todos os conteúdos estão disponíveis em qualidade 4K HDR com áudio espacial, sem custo adicional e sem interrupções publicitárias.
Além disso, não há níveis de assinatura, não há tentação de “melhorar” o plano. Você paga uma única tarifa e tem acesso à experiência completa. É um modelo radicalmente simples em um mercado que se tornou cada vez mais complicado.
Em termos de conteúdo original, o Apple TV perde de lavada: tem apenas 226 títulos em seu catálogo, um número microscópico em comparação com os 5.720 da Netflix, os 5.354 do Prime Video, os 2.461 do Disney+ ou até os 2.300 do HBO Max, segundo cálculos recentes.
Só faz sentido se o catálogo for avaliado pela qualidade do conteúdo. Enquanto Netflix e Prime Video investem milhões em produzir e adquirir conteúdo em massa, o Apple TV se concentra em menos produções, mas que transmitam exclusividade. Embora a Apple ainda esteja longe de ter séries com o impacto de Stranger Things, seus maiores sucessos (Separação, Silo, F1) passam a sensação de que “não há linguiça”, o que compensa a quantidade menor.
É nessa mesma linha que se move a decisão de, por enquanto, abrir mão dos anúncios: oferecer ao espectador algo que ninguém mais oferece — uma experiência de assistir a séries sem interrupções nem ruído. Mesmo que isso custe um pouco mais (e ainda que as contas da plataforma não estejam em seu melhor momento).
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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