Em contexto marcado pela guerra na Ucrânia e pela crescente agressividade de Moscou no espaço aéreo do Atlântico Norte, juntamente com a progressiva militarização de suas rotas estratégicas, a Espanha assumiu, pela primeira vez, um papel extremamente ativo na defesa do flanco norte da OTAN.
Pela primeira vez em sua história, a Espanha enviou caças para o país do norte da Europa como parte da missão de policiamento aéreo da OTAN. A operação, batizada de Destacamento Aéreo Tático (DAT) Stinga ("ferrão" em islandês), representa um marco para a Força Aérea e Espacial (EA), que até então concentrava sua participação no flanco leste da Aliança Atlântica, especialmente nos países bálticos.
Com a medida, o governo espanhol pretende demonstrar comprometimento com todos os cenários de defesa da OTAN, incluindo o Ártico estratégico, que vem ganhando relevância diante da crescente atividade militar russa no Atlântico Norte.
Keflavik: o novo posto avançado espanhol
O destacamento operará a partir da Base Aérea de Keflavik, no sul da Islândia, considerada crítica devido à sua localização no Atlântico Norte, fundamental para o controle do tráfego aéreo intercontinental e das rotas entre a América do Norte e a Europa.
A Islândia, país sem força aérea própria, depende de rotações de aliados da OTAN para garantir a integridade de seu espaço aéreo. Além dos 44 aviadores que chegaram como guarda avançada para se preparar para a operação, até 122 militares espanhóis (incluindo pilotos, técnicos de manutenção, especialistas em armamento, pessoal de logística e segurança) serão responsáveis pela operação de seis caças F-18 que chegaram em 22 de julho.
A missão começou oficialmente no dia 28 de julho e se estenderá até meados de agosto.
Alerta permanente no céu do norte
Sob o comando do Tenente-Coronel Rafael Ichaso Franco, o destacamento Stinga estará em alerta de reação rápida (QRA), ou seja, preparado para interceptar qualquer aeronave que viole as regras do espaço aéreo aliado, seja voando sem plano de voo, sem contato de rádio ou com o transponder desligado — prática comum em manobras de intimidação aérea da Rússia.
É exatamente por isso que a OTAN lançou, em 2014 (após a anexação da Crimeia pela Rússia), uma série de missões de vigilância aérea que vêm expandindo sua presença territorial pela Europa.
Treinamento "hostil"
Além disso: ao contrário de outras missões de policiamento aéreo já realizadas na Estônia, Lituânia ou Romênia, a Islândia apresenta desafios operacionais distintos. Não apenas pela latitude e pelas condições climáticas, mas também pela falta de experiência prévia do Exército espanhol nesse teatro de operações.
É justamente por isso que, segundo o El Mundo, também foi realizada uma preparação intensa em simuladores, recriando cenários específicos para o ambiente ártico. Voos de treinamento também foram programados na região para consolidar as capacidades operacionais dos pilotos e manter a plena operacionalidade dos F-18.
Além de um gesto
Embora a duração da missão seja bastante curta, seu valor político e estratégico é significativo. A Espanha reforça sua imagem de aliada confiável e disposta a participar da partilha de responsabilidades dentro da Aliança Atlântica, alinhando-se com as prioridades de dissuasão a Moscou em todas as frentes — inclusive aquelas menos visíveis para a opinião pública espanhola até agora.
Ao projetar força no norte, a nação espanhola também contribui para a arquitetura defensiva que se estende do Mar Báltico ao Círculo Polar Ártico, num momento em que a OTAN redefine suas fronteiras militares diante de um Kremlin cada vez mais agressivo.
Imagem | Ministério da Defesa da Espanha
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