Mais difícil que coração: por que o fígado de porco com 10 edições genéticas é a nova esperança da medicina

Um passo significativo para resolver a grave escassez global de órgãos

Porcos | Fonte: Getty Images
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Vika Rosa

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Jornalista com mais de 5 anos de experiência, cobrindo os mais diversos temas. Apaixonada por ciência, tecnologia e games.


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O estudo descreve o primeiro xenotransplante auxiliar bem-sucedido de um fígado de porco geneticamente modificado para um ser humano vivo, um marco publicado no Journal of Hepatology. Embora o paciente tenha falecido após 171 dias, o experimento demonstrou que o órgão suíno pode assumir funções hepáticas essenciais em um corpo humano por um período prolongado.

O avanço é visto como um passo significativo para resolver a grave escassez global de órgãos para transplantes. Milhares de pessoas morrem anualmente em todo o mundo à espera de um órgão. Na China, por exemplo, o desequilíbrio é dramático, com centenas de milhares desenvolvendo insuficiência hepática, mas apenas cerca de 6.000 transplantes sendo realizados anualmente.

A pesquisa sugere que o xenotransplante (transplante entre espécies) pode abrir caminhos totalmente novos para pacientes que não são elegíveis para transplantes humanos tradicionais.

O fígado de porco geneticamente modificado

O paciente, um homem de 71 anos com cirrose e carcinoma hepatocelular, recebeu um enxerto auxiliar de fígado derivado de um porco miniatura Diannan. O órgão suíno passou por 10 alterações genéticas específicas, que incluíram:

  • Remoção de xenoantígenos (moléculas que desencadeiam a rejeição imediata do sistema imunológico humano).
  • Adição de transgenes humanos projetados para melhorar a compatibilidade com os sistemas imunológico e de coagulação do paciente.

Durante o primeiro mês, o enxerto funcionou bem, produzindo bile e fatores de coagulação sem sinais de rejeição hiperaguda.

Gráfico explicando o fígado | Fonte: Journal of Hepatology/Pesquisadores reponsáveis Gráfico explicando o fígado | Fonte: Journal of Hepatology/Pesquisadores reponsáveis

Um longo caminho

Apesar do sucesso inicial, o caso ilustra os complexos obstáculos biológicos que limitam a sobrevida a longo prazo. No 38º dia, os médicos precisaram remover o enxerto devido ao desenvolvimento de microangiopatia trombótica associada ao xenotransplante (xTMA), uma complicação grave ligada à coagulação e à lesão dos vasos sanguíneos.

O Dr. Beicheng Sun, investigador principal, afirma que o caso comprova o potencial do fígado suíno modificado, mas ressalta que a desregulação da coagulação e as complicações imunológicas continuam sendo os principais desafios a serem superados.

O Dr. Heiner Wedemeyer, coeditor do periódico, descreveu o relatório como um "marco na hepatologia", sinalizando que "uma nova era da hepatologia de transplantes teve início". A esperança é que, com mais pesquisas, a abordagem possa ser amplamente utilizada para pacientes com insuficiência hepática aguda e outras condições graves.

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