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Holandeses tiveram a ideia de regar o Ártico para combater o degelo polar. E não é que está funcionando?

Cada vez surgem mais ideias para intervir no clima. A pergunta é: estamos realmente seguros de que queremos fazer isso?

Regar As O Oceano Artico E Um Metodo Eficaz De Combater O Desgelo
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Os holandeses têm suas peculiaridades. Comem sanduíches de croquetes, andam de bicicleta e esperam que os canais congelam como uma criança espera a noite de Reis. E não é só isso. Quando os canais congelam, eles pegam seus patins e saem para percorrê-los, fazem corridas e até viajam de uma cidade a outra.

E não, não é uma moda passageira: existem pinturas do século XVI que retratam essa obsessão holandesa pelo gelo. A primeira "maratona" em gelo natural foi realizada em março de 1888 e, há décadas, há uma competição quase obsessiva entre os clubes para ver quem pode organizar a primeira corrida da temporada.

O problema é que o gelo natural está se tornando cada vez mais raro, o que levou os 'ijsmeesters' (mestres do gelo) a desenvolver técnicas para aumentar a espessura do gelo em canais, lagos e prados. Eles se tornaram verdadeiros especialistas no assunto e, em um belo dia de 2016, um grupo de pesquisadores perguntou por que não fazer o mesmo no Ártico.

No Ártico?

Durante anos, temos falado sobre o derretimento provocado pelas mudanças climáticas e os inúmeros problemas que isso causará. Por outro lado, sabemos que a espessura do gelo reduz as chances de que ele derreta completamente durante o verão. Então... por que não usar o mesmo sistema dos "ijsmeesters" no Ártico? Ou seja, por que não restaurar esse gelo bombeando água do mar sobre o gelo durante o inverno?

Foi assim que surgiu o projeto Arctic Reflexion, com o objetivo de restaurar 100.000 quilômetros quadrados de gelo (um pouco mais que a média anual de perda de gelo registrada nas últimas décadas).

E eles estão colocando isso em prática. Em abril de 2024, o pessoal do Arctic Reflexion, junto com uma equipe da Universidade de Delft e do Centro Universitário de Svalbard, foi até essas ilhas norueguesas, localizadas bem ao norte, para realizar o primeiro teste de campo.

Agora, acabaram de publicar uma análise inicial que, sinceramente, traz resultados bastante animadores.

O que aconteceu?

Os pesquisadores descobriram que bastava bombear água por uma média de apenas 4 horas em diferentes locais para aumentar a espessura do gelo em 24 cm. Isso fez com que o gelo durasse seis dias a mais no verão.

Embora a área testada não tenha sido muito grande (com três canhões, eles conseguiram cobrir pouco menos de um hectare), e o gelo tenha resistido menos do que o esperado, os resultados são muito promissores: é, essencialmente, uma prova de conceito.

Uma história muito maior

Embora os cientistas neguem que suas técnicas sejam consideradas "geoengenharia", a ampliação em grande escala desse tipo de intervenções restaurativas teria consequências diretas sobre o clima do planeta.

O problema é que mexer no clima mundial é uma questão extremamente complexa. Não apenas por questões de governança, mas também porque é um processo que, como vimos com as emissões de enxofre no Atlântico, pode ter consequências imprevistas.

Imagem | NASA | Hector John Periquin

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