O design da Samsung vem melhorando a cada ano, depois de muito tempo com os aparelhos, mesmo ótimos, poderosos e cheios de recursos, sem personalidade. Enquanto rivais como a Nothing buscam visuais icônicos e a Apple adora falar do seu design (que depois acaba virando praticamente o padrão de mercado), a coreana ficou parada com um “bom o suficiente”. Agora, tudo indica que a gigante decidiu acordar — e trouxe um nome improvável para liderar a revolução estética: Mauro Porcini, ex-chefe de design da PepsiCo, responsável pelo maior rebrand da empresa em 14 anos.
A contratação marca a primeira vez em que a Samsung cria oficialmente o cargo de Chief Design Officer. E, convenhamos, chegou tarde. A Apple colocou Jony Ive nessa mesma posição há mais de uma década, num momento em que a Samsung era criticada por engessar a inovação em meio a camadas de burocracia. Porém, com a casa reorganizada, a empresa agora tenta resolver um desafio monumental: alinhar centenas de produtos globais sob um mesmo ideal — sem abrir mão do DNA de engenharia que trouxe liderança em TVs e smartphones.
Porcini chega com um discurso claro: design não é mais detalhe, é estratégia. Ele argumenta que estamos entrando em um momento de mudança profunda na relação entre humanos e máquinas, especialmente com a expansão acelerada da IA. Para a Samsung, isso significa que design precisa ser a meta quando o futuro do portfólio é discutido. Não apenas para deixar produtos “bonitos”, mas para torná-los coerentes, personalizados e emocionalmente conectados ao usuário.
O plano, no entanto, não é criar uma “cara universal” para tudo — até porque seria impossível fazer um celular e uma geladeira falarem a mesma língua visual. Porcini defende algo mais ambicioso: uma “linguagem de experiência”, que una software, serviços e hardware em um ecossistema mais natural. Críticos históricos da marca, como o designer Gadi Amit, concordam que justamente aí está o calcanhar de Aquiles da Samsung: a empresa domina engenharia, mas ainda patina em integrar tudo de forma fluida, como a Apple faz com seus serviços.
Mesmo assim, Porcini parece disposto a arriscar — e, mais importante, a convencer a Samsung a arriscar junto. Ele lembra do caso da The Frame, a TV que virou quadro e que, apesar de um início morno, criou uma categoria inteira e se tornou um dos maiores sucessos da empresa. A lição? Inovação se faz com experimentos, não com medo. E experimentos, por definição, falham — algo que ele diz que a Samsung está finalmente pronta para aceitar.
Mauro Porcini na época da Pepsi.
Mas será que a empresa vai deixar o novo chefe mexer nas peças estratégicas? Porcini garante que sim. Ele não integra o conselho, mas responde diretamente ao Chief Strategy Officer — e afirma que o próprio topo da empresa apostou pesado no novo papel para transformar a Samsung em uma companhia movida pelo design. Segundo ele, é hora de parar de jogar seguro, encontrar os parceiros certos internamente e construir uma visão para os próximos anos, inclusive explorando novas categorias, como robôs domésticos mais inteligentes e até móveis.
Ainda vai levar tempo até vermos o toque de Porcini nos Galaxy, TVs, wearables e eletrodomésticos. Mas tudo indica que a Samsung finalmente percebeu que, na corrida por inovação, só potência não vence — estética, experiência e propósito também contam. E, dessa vez, o ex-Pepsi pode ser justamente o gás que faltava para mover essa mudança.
Crédito de imagem: Xataka Brasil via Perplexity / Jacopo Raule/Getty Images for Tmag
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