As relações diplomáticas entre os Países Baixos e a China estão passando por um momento muito delicado. Isso porque a ASML, empresa neerlandesa que é a maior fornecedora mundial de equipamentos de fabricação de chips, vai precisar solicitar uma licença do governo toda vez que quiser exportar determinadas máquinas para a China. O governo chinês não gostou.
Em setembro, Reinette Klever, a ministra do Comércio Exterior e Cooperação para o Desenvolvimento dos Países Baixos, declarou que, daqui para frente, sua administração assumiria total controle das exportações dos equipamentos utilizados na fabricação de semicondutores, especialmente os produzidos pela ASML. Antes, eram os EUA que faziam esse controle — eles tinham esse direito porque a tecnologia usada pela ASML tem patente americana.
O governo do país europeu antecipou também que está preparando novos controles de exportação sobre dois equipamentos de litografia da ASML que ainda estão sendo exportados para a China sem necessidade de autorização (veja mais abaixo).
O objetivo dos Países Baixos é alinhar-se à estratégia dos EUA, que têm pressionado seus aliados a limitar as exportações para a China de equipamentos para a fabricação de chips semicondutores. Desde a pandemia, o mercado internacional observa uma escassez na oferta desses chips. Além disso, os EUA também alegam motivos relacionados à sua defesa, pois alguns equipamentos de litografia da ASML poderiam ser utilizados para produzir semicondutores avançados, os quais poderiam ser usados para impulsionar projetos com fins militares.
Países Baixos se tornam mais rigorosos
A ASML nunca teve autorização para vender a seus clientes chineses os seus equipamentos de litografia mais avançados, ou seja, as máquinas de ultravioleta extremo (UVE). Desde janeiro de 2024, também não pode mais comercializar seus equipamentos de ultravioleta profundo (UVP) mais sofisticados, entre os quais se encontra o TwinScan NXT:1980Di. Agora, o governo dos Países Baixos está considerando controlar a exportação de mais dois equipamentos UVP: os modelos 1970i e 1980i, ambos fabricados pela ASML.
No entanto, isso não é tudo. A administração neerlandesa planeja ampliar o alcance de seu próximo pacote de sanções para ir além dessas novas exigências de licenças de exportação para a ASML. A partir de agora, a fabricante também precisará solicitar uma licença sempre que prestar serviço de assistência, fornecer peças de reposição ou entregar atualizações de software a seus clientes chineses para as máquinas que estão sujeitas a controles de exportação.
É importante observar que, na prática, a solicitação dessas licenças será uma mera formalidade. Na atual conjuntura, o mais provável é que, ao solicitar qualquer uma dessas licenças à administração dos Países Baixos, a ASML tenha seu pedido negado. E, como era de se esperar, isso é uma péssima notícia para a China. Um porta-voz do Ministério do Comércio chinês declarou que o governo de Xi Jinping está insatisfeito com a decisão tomada pelos Países Baixos.
Isso porque essas novas sanções têm o potencial de colocar a maior parte dos fabricantes chineses de semicondutores em uma situação difícil. A ASML vende seus equipamentos à China desde 1988 e, desde então, já instalou mais de mil máquinas no país asiático. É difícil precisar quantas dessas máquinas ficarão sujeitas aos controles de exportação, mas, presumivelmente, as mais avançadas estão incluídas. Essas são as que têm mais valor para os fabricantes chineses de chips.
A curto prazo, os clientes chineses da ASML ficarão sem serviços de assistência e peças de reposição. Veremos como a China reagirá, mas é muito provável que um golpe como esse não passe sem resposta por parte do governo de Xi Jinping.
Este texto foi traduzido e adaptado do site Xataka Espanha
Imagem | ASML
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