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Parteira ao contrário: ela ajudou dezenas de mulheres a matar os maridos

Episódio aconteceu na Hungria e ficou conhecido como o maior massacre contra homens da história

Mulheres sentadas durante julgamento no tribunal Szolnok, na Hungria. Créditos: banco de imagens
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Laura Vieira

Redatora
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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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No dia 14 de dezembro de 1929, o The New York Times publicou uma história que chocou pessoas no mundo inteiro: o julgamento de mulheres acusadas de cometerem um envenenamento em massa contra homens da aldeia de Nagyrev e Tiszakurt, localizados na Hungria.  As 50 mulheres, chamadas de “criadoras de anjos”, foram acusadas de envenenar maridos e parentes com arsênico, uma solução tóxica que pode ser fatal se ingerida. O caso ganhou repercussão internacional e foi classificado como o maior assassinato em massa contra homens cometidos por mulheres na história. No entanto, os motivos por trás do crime não foram noticiados na época do crime. A seguir, entenda como o crime foi revelado e o que pode ter motivado mais de 50 mulheres a assassinarem seus maridos e familiares. 

Parteira da aldeia foi considerada principal suspeita 

Nagyrev e Tiszakurt são duas aldeias localizadas a cerca de 130 km de Budapeste, a capital da Hungria. Na época em que o crime foi anunciado, as duas aldeias ainda estavam sob domínio do Império Austro-Hungáro, e tanto uma como a outra eram povoadas por um grupo relativamente pequeno, sem a presença de médicos oficiais. Nesse contexto, as responsáveis pelo atendimento local eram as parteiras, e foi exatamente aí que tudo começou.

Todas as mulheres acusadas de envenenamento, com idades entre 40 e 70 anos, alegaram que a responsável pelo assassinato de seus maridos era uma parteira da aldeia,  Zsuzsanna Fazekas, também conhecida como tia Zsuzsi. Contudo, ao descobrir que era a principal suspeita da polícia, a parteira cometeu suicídio. 

Mais de 50 mulheres foram acusadas de envenenar marido e parentes 

O julgamento de 50 mulheres acusadas de assassinar seus maridos e família entre os anos de 1911 e 1029 foi um escândalo na época. A primeira nota lançada pelo jornal The New York Times, em 1929, foi sobre o julgamento de 4 mulheres envolvidas no envenenamento do marido e de mais três parentes: Julia Lepka, Rosalie Sebestyen, Maria Koteles e Rosa Holyba.

Durante a audiência no tribunal Szolnok, uma cidade na Hungria, as mulheres usavam vestimentas pretas e mantiveram-se com a cabeça baixa enquanto admitiam serem inocentes. No entanto, durante a audiência de instrução, elas haviam confessado o caso perante o juiz. Todas elas alegavam que a culpa era de Zsuzsanna Fazekas, menos Rosa Holyba, que acabou cedendo e admitindo a sua culpa durante o julgamento e também a de Maria Koteles, alegando que havia sido incitada a cometer o assassinato por ela. 

Rosa admitiu ter envenenado o próprio marido com arsênico extraído de papel mata-mosca, uma receita caseira atribuída a tia Zsuzsi. Bastava pegar tiras de papel mata-moscas, mergulhá-las em água ou vinagre e deixá-las em infusão durante um tempo. Depois, ele era mergulhado em arsênico, e quando dissolvido, o líquido ficava transparente e sem odor, sendo quase imperceptível. 

A confissão acabou levando 8 mulheres a serem condenadas à morte, enquanto o restante foi preso, sendo que algumas foram sentenciadas a prisão perpétua. Contudo, outras mortes masculinas inusitadas em regiões próximas também chamou a atenção das autoridades. A estimativa é que mais de 300 homens tenham morrido de forma similar, mas não há informações oficiais sobre o paradeiro dessas pessoas.

O que estava por trás do assassinato de tantas pessoas?

Mas a pergunta que não quer calar é: o que motivou tantas mulheres a matar maridos e familiares? A hipótese levantada durante as investigações é que os assassinatos teriam sido motivados por motivos como violência física, estupros cometidos pelos próprios maridos, maus-tratos e infidelidade. Vale lembrar que, naquela época, o divórcio ainda não era aceito no país, então muitas mulheres ficavam à mercê de seus maridos violentos e abusivos. 

É nesse mesmo contexto que Zsuzsanna Fazekas entra. Diferentemente de outras parteiras da região, tia Zsuzsi não sabia só sobre parto de crianças e cuidados básicos da medicina, mas era conhecedora de remédios medicinais diferentes, com produtos químicos. Além do conhecimento incomum, a parteira não andava acompanhada de padres e nem médicos, o que proporcionava uma maior confiança e proximidade a mulheres que atendia

Dessa forma, as mulheres se sentiam mais seguras para revelar o que acontecia em suas residências, seja com seus maridos ou com seus familiares. Sem marido e com três filhos, tia Zsuzsi, de acordo com as investigações, poderia ter ajudado as mulheres a sair de tais situações de maneira "sutil", através do envenenamento dos maridos. 

Contudo, outras hipóteses também foram relatadas. Dentre elas, motivos como a pobreza, a ganância e até o tédio das mulheres foram citados. De acordo com os relatos, quando seus maridos saiam para a guerra, muitas delas aproveitam esse período para se envolver com prisioneiros de guerra da Rússia que eram recrutados para trabalhar nas fazendas na ausência de seus homens, experimentando uma sensação de liberdade que elas nunca haviam sentido.  

Arsênico também foi usado para envenenar bebês indesejados 

Era uma sexta-feira 13, no ano de 1929,  quando o The New York Times publicou um caso ainda mais chocante que o assassinato de dezenas de maridos: o assassinato de dois bebês por arsênico em  Nagyrev. Os assassinatos em massa na cidade motivou a exumação do corpo de dois bebês que faleceram com apenas três dias de vida na cidade, Justin e Stephen Cher. 

Após os exames, ficou constatado que ambas as crianças haviam falecido por envenenamento por arsênico. A descoberta fez com que o Ministério Público considerasse a atitude criminosa como uma prática entre mães e esposas com intuito de se livrarem de crianças e maridos indesejados, além da ordem de exumação de todos os corpos de crianças que morreram nos últimos vinte anos.

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