A Europa assinou seu primeiro acordo para proteger cães e gatos; os criadores não vão gostar nada disso

  • As regulamentações afetarão criadores, lojas de animais e abrigos, e serão obrigatórias a partir de 2028;

  • Elas proíbem o cruzamento consanguíneo e estabelecem limites de idade e frequência de reprodução para fêmeas

A Europa assinou seu primeiro acordo para proteger cães e gatos; os criadores não vão gostar nada disso
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Fabrício Mainenti

Redator

A Lei de Bem-Estar Animal entrou em vigor na Espanha há dois anos. Entre suas medidas, a lei proíbe que indivíduos criem e vendam animais de estimação, permitindo que apenas criadores registrados o façam. Agora, a União Europeia quer acabar com as práticas abusivas de criação.

O que aconteceu?

Em 25 de novembro, o Conselho e o Parlamento Europeu chegaram a um acordo provisório que estabelece uma série de regras mais rigorosas para o comércio de cães e gatos. Isso afetará criadores, lojas de animais e abrigos. O acordo ainda precisa ser ratificado, mas um prazo foi definido para o cumprimento: 2028.

Por que isso é importante?

É o primeiro acordo sobre bem-estar animal em um nível comunitário. Até então, as únicas regulamentações europeias que afetavam animais de estimação eram as que regiam a circulação entre os Estados-Membros, mas priorizar o combate à criação abusiva é mais uma prova de que o bem-estar animal está no centro do debate público.

Ponto de partida

Estima-se que o mercado de compra de cães e gatos movimente € 1,3 bilhão anualmente (cerca de R$ 8 bilhões), com 60% das compras realizadas online. Na Espanha, a Lei de Bem-Estar Animal proíbe expressamente a venda direta pela internet e exige que os criadores que anunciam em revistas ou outros meios de comunicação incluam seu número de registro. No entanto, muitos outros países da UE não possuem regulamentações semelhantes.

Bem-estar animal

Os estabelecimentos devem cumprir uma série de requisitos para garantir o bem-estar dos animais que abrigam. Esses requisitos abrangem a nutrição, o ambiente físico, a saúde, o comportamento e o estado mental dos animais. Alguns desses requisitos incluem:

  • O ambiente deve ser de boa qualidade, ou seja, deve ser confortável, com espaço suficiente e temperatura adequada;
  • Os animais devem estar seguros, limpos e saudáveis. Devem ser implementadas medidas para prevenir doenças ou lesões;
  • É proibido manter cães ou gatos em recintos fechados (gaiolas, vitrines, etc.), exceto para transporte;
  • É proibido manter cães amarrados por longos períodos;
  • Cães e gatos devem ter acesso ao exterior para exercícios e socialização;
  • Devem receber alimentação e água em quantidade suficiente e de qualidade adequada;
  • Os estabelecimentos devem possuir competência suficiente no cuidado de cães e gatos, incluindo o conhecimento de seu comportamento biológico e necessidades etológicas;
  • Pelo menos um cuidador por estabelecimento deve receber treinamento oficial em cuidados com animais;
  • As visitas ao veterinário devem ser garantidas pelo menos uma vez por ano, e os resultados devem ser registrados;
  • Ao vender ou entregar um animal para adoção, o destinatário deve ser orientado sobre a posse responsável de animais de estimação.

Criadores

A regulamentação foca particularmente na criação e reprodução de animais, com uma série de requisitos destinados a eliminar práticas prejudiciais, como mutilação e consanguinidade. São eles:

  • Serão estabelecidos limites de idade para cadelas e gatas utilizadas para reprodução, bem como uma frequência mínima entre ninhadas;
  • A consanguinidade será proibida; ou seja, o cruzamento entre pais, descendentes, irmãos ou avós não será permitido;
  • Se uma cadela ou gata tiver sido submetida a duas cesarianas, ela deverá ser retirada do programa de reprodução para proteger sua saúde;
  • A criação de híbridos por meio do cruzamento com espécies selvagens, como cães e lobos, é proibida;
  • Mutilações como corte de orelhas, cauda ou remoção de garras não serão permitidas;
  • Cães ou gatos com características extremas, como focinhos muito curtos ou "caras achatadas" típicas de raças como o Buldogue Francês ou o Pug, não podem ser usados ​​para reprodução.

Identificação obrigatória

Todos os cães e gatos vendidos ou entregues para adoção devem ser microchipados e registrados no banco de dados nacional. Criadores e abrigos serão obrigados a fazê-lo a partir de 2028 e, dentro de dez anos, será obrigatório para todos os proprietários de cães e gatos. Na Espanha, a microchipagem já é obrigatória para ambas as espécies. A novidade introduzida por esta regulamentação é a interoperabilidade dos bancos de dados a nível europeu.

Quem não é afetado?

Há exceções e, novamente, a regulamentação não afetará cães de caça, cães de guarda ou gatos que vivem livremente em áreas rurais. A Fundação FAADA lamenta esta decisão e afirma que ela "deixará cerca de 18 milhões de gatos e 2 milhões de cães na UE sem proteção adequada". Há também uma exceção em relação à proibição de endogamia. Ela será permitida quando se destinar a "preservar raças locais com um patrimônio genético limitado".

Pequenas empresas também estarão isentas das regulamentações, com exceção da microchipagem de animais. Para serem consideradas pequenas empresas, elas devem atender aos seguintes requisitos:

  • Criadores com, no máximo, três cadelas ou gatas e, no máximo, duas ninhadas por ano;
  • Lojas de animais com, no máximo, três cães ou seis gatos;
  • Abrigos de animais com, no máximo, dez cães ou vinte gatos.

Imagens | Pexels

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