Top 10 da Nature: quem é o cientista brasileiro que entrou para a elite da ciência mundial criando uma "fábrica de mosquitos"

Método Wolbachia, tecnologia brasileira que cria mosquitos incapazes de transmitir o vírus da dengue, zika e chikungunya, leva Luciano Moreira à lista dos dez cientistas mais importantes de 2025

Mosquito da  Aedes aegypti. Créditos: Bloomberg Creative Photos/GettyImages
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Laura Vieira

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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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Luciano Moreira, cientista brasileiro responsável por desenvolver uma versão do Aedes aegypti que não transmite dengue, entrou para a lista dos 10 nomes que revolucionaram a ciência em 2025. A seleção, feita pela revista Nature, uma das revistas científicas mais influentes do mundo, reconhece sua contribuição ao transformar o próprio vetor da doença, o mosquito, em uma arma para combater a dengue, zika e chikungunya. A tecnologia já foi aplicada em cidades de várias regiões do país e já mostram um impacto direto na redução das doenças virais infecciosas transmitidas pelos mosquitos.

Quem é Luciano Moreira? Conheça a trajetória do cientista por trás dos mosquitos que salvam vidas

Luciano Moreira, engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), sempre teve uma quedinha por insetos. Essa relação começou muito antes dele liderar uma das pesquisas mais relevantes do país, que o fez entrar na lista dos 10 nomes que revolucionaram a ciência em 2025. Quando criança, no quintal que cresceu, ele coletava bichos para observar de perto, curiosidade que, anos depois, o levaria à entomologia, o ramo da biologia dedicado ao estudo dos insetos.

Luciano construiu carreira acadêmica no Brasil e no exterior, em países como Holanda, Estados Unidos e Austrália. No fim dos anos 1990, durante um pós-doutorado nos Estados Unidos, o cientista participou do desenvolvimento do primeiro mosquito geneticamente modificado para bloquear a transmissão da malária. A experiência acabou inspirando no trabalho que marcaria sua vida profissional: a descoberta de uma bactéria relativamente comum, a Wolbachia, que poderia impedir que o Aedes aegypti transmitisse os vírus da Dengue, Zika e Chikungunya.

Anos depois, na Austrália, ele participou de uma equipe que conseguiu infectar o Aedes com Wolbachia e percebeu que os insetos passaram a ter muito menos chance de contrair o vírus da dengue ao se alimentarem de sangue contaminado. A partir daí,  Luciano assumiu um cargo de pesquisador na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), onde montou o primeiro laboratório nacional dedicado ao assunto e passou a testar a tecnologia.

Mosquitos turbinados? Entenda como funciona o método Wolbachia

A estratégia criada pela equipe de Luciano consistia em uma técnica simples, que ele já havia experimentado com o mosquito transmissor da malária. Ao invés de tentar eliminar o Aedes aegypti completamente, os cientistas decidiram transformá-lo para que ele mesmo pudesse ajudar nesse combate. No laboratório, eles inserem a bactéria Wolbachia nos ovos do Aedes, que passa a viver nas células do mosquito e impede que vírus como dengue, zika e chikungunya se multipliquem dentro dele.

Com isso, o inseto continua vivendo normalmente, mas perde a capacidade de transmitir essas doenças. Outro característica positiva dessa transformação é que o efeito é duradouro, pois toda fêmea que carrega Wolbachia, transmite a bactéria aos seus descendentes. 

Os primeiros testes no Brasil foram realizados quase artesanalmente, com pipetas, estufas improvisadas e trabalho manual. Hoje, porém, o cenário é outro. Em 2024, foi inaugurado em Curitiba a Wolbito,  uma biofábrica que produz semanalmente milhões de ovos de mosquitos com Wolbachia, em um processo inteiramente controlado e replicável. Essa é a maior fábrica do mundo dedicada a essa tecnologia, e fica localizada bem aqui, no Brasil.

Pesquisa de Luciano recebe reconhecimento para a ciência 

Imagine como deve ter sido difícil convencer gestores públicos a liberar mosquitos na natureza, ainda que esses fossem inofensivos. É claro que Luciano ouviu repetidas vezes que a ideia “jamais funcionaria”. Mas os resultados provaram que eles estavam errados. Em Niterói, no Rio de Janeiro, uma das primeiras cidades a adotar o método, os casos de dengue baixaram em 89% após a liberação dos insetos

O sucesso atraiu a atenção do Ministério da Saúde, que reconheceu oficialmente o Método Wolbachia como estratégia nacional de combate das doenças virais infecciosas transmitidas por mosquitos. Hoje, o programa está em implantação em cidades de cinco estados, e a previsão é que avance conforme a fábrica de Curitiba aumente a produção.

Além da conquista para a saúde pública, com a diminuição dos casos de dengue, zika e chikungunya, o reconhecimento do trabalho de Luciano na Nature mostra que a ciência brasileira tem capacidade para inovar. Luciano foi prestigiado na revista ao lado de pesquisadores responsáveis por descobertas tão relevantes e importantes como a dele, de grande impacto global, como avanços em edição genética e novas tecnologias na área de astronomia.

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