Segundo a University of Washington School of Medicine, os departamentos de emergência têm notado um aumento constante no número de pacientes que buscam ajuda para episódios de vômito intenso e prolongado, acompanhado de dor abdominal. O que esses casos frequentemente têm em comum é o uso crônico de cannabis, um padrão que levou ao reconhecimento oficial de uma nova condição: a Síndrome de Hiperêmese Canabinoide (SHC).
A condição, que faz com que usuários crônicos enfrentem ciclos severos de vômito três ou quatro vezes por ano, finalmente recebeu uma identidade clínica formal.
O que é a síndrome
A SHC é um distúrbio gastrointestinal que se manifesta dentro de 24 horas após o uso mais recente de cannabis. Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) padronizou a condição em seu manual de Classificação Internacional de Doenças (CID-10), atribuindo o código específico R11.16.
Essa atualização é vital para a saúde pública e para a ciência. O novo código permite que os médicos documentem a síndrome de forma consistente, o que é crucial para reconhecer episódios de repetição e, principalmente, para que pesquisadores como Beatriz Carlini (Universidade de Washington) possam rastrear os casos com maior precisão.
Essa coleta de dados fornecerá "provas concretas" sobre os eventos adversos da cannabis, um problema que os médicos relatam estar crescendo.
Dificuldade no tratamento
Apesar do aumento nos casos, a SHC é frequentemente diagnosticada com atraso, muitas vezes após o paciente ter feito múltiplas visitas ao pronto-socorro, custando milhares de dólares a cada vez.
O Dr. Chris Buresh, especialista em medicina de emergência, explica o grande paradoxo: a cannabis é amplamente conhecida por aliviar náuseas (em pacientes com quimioterapia ou condições crônicas como HIV). Muitos pacientes resistem ao diagnóstico, pois usam a substância justamente por acreditarem que ela trata suas náuseas.
"Parece que há um limiar no qual as pessoas podem se tornar vulneráveis a esta condição, e esse limiar é diferente para todos. Mesmo usando em pequenas quantidades, [os pacientes] podem começar a vomitar," afirma Buresh.
O tratamento é desafiador, pois os medicamentos anti-náusea padrão frequentemente falham. Clinicamente, um diagnóstico pode ser confirmado pela resposta do paciente a remédios de segunda ou terceira linha (como o Haldol, geralmente usado para episódios psicóticos) ou por remédios caseiros incomuns:
- Cremes de capsaicina: alguns pacientes aplicam o creme (analgésico de aquecimento) no abdômen para alívio.
- Banhos quentes: banhos quentes são amplamente relatados como úteis. "Isso pode fechar o diagnóstico para mim, quando alguém diz que fica melhor com um banho quente. Os pacientes descrevem gastar toda a água quente de casa," diz Buresh.
Causas incertas
Os cientistas ainda não sabem por que a síndrome afeta alguns usuários e não outros. As hipóteses incluem a maior disponibilidade geral de cannabis ou a crescente potência do THC em alguns produtos.
A recuperação é dificultada por dois fatores: a intermitência da síndrome faz com que os usuários a interpretem como um evento isolado e continuem o uso, e para aqueles que aceitam o diagnóstico, a dependência pode ser uma poderosa força contrária à abstinência, que é o único caminho para a cura.
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