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Rússia forçará os usuários a instalar seu aplicativo de mensagens acusado de espionagem para tentar encerrar o WhatsApp e o Telegram

A Rússia afirma que a missão deste aplicativo é proteger a privacidade de seus cidadãos. Mas muitos discordam.

Aplicativo russo de troca de mensagens já foi denunciado por espionagem | Imagens: IGORN
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Igor Gomes

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Igor Gomes

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Subeditor do Xataka Brasil. Jornalista há 15 anos, já trabalhou em jornais diários, revistas semanais e podcasts. Quando criança, desmontava os brinquedos para tentar entender como eles funcionavam e nunca conseguia montar de volta.

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A Rússia acaba de dar um passo decisivo em seu sistema de controle digital. O governo determinou que todos os celulares e tablets vendidos no país venham pré-instalados com um novo aplicativo: "Max", um serviço de mensagens estatal que, segundo os críticos, foi concebido como uma poderosa ferramenta de vigilância governamental.

Ela coincide com outras restrições

A nova medida ocorre apenas uma semana depois de o regulador russo Roskomnadzor ter começado a restringir chamadas de voz em serviços populares como WhatsApp e Telegram, punindo-os pela recusa em fornecer dados dos usuários às autoridades.

"Max", o substituto forçado que se integra ao governo

Este novo aplicativo não está começando do zero. Ele substituirá outro aplicativo de mensagens desenvolvido pela gigante tecnológica russa VK, que já era obrigatório desde 2023. No entanto, o "Max" vai um passo além, pois se integrará diretamente aos serviços governamentais, centralizando ainda mais a comunicação dos cidadãos por meio de uma plataforma controlada pelo Kremlin. E já atingiu 18 milhões de downloads, segundo fontes oficiais.

A medida faz parte de uma lei em vigor desde 2021 que exige que smartphones, tablets e computadores incluam software de fabricação russa. Embora a justificativa oficial seja a proteção dos dados dos cidadãos, organizações de direitos digitais vêm denunciando há anos que o verdadeiro objetivo é limitar as liberdades digitais e monitorar a atividade das pessoas.

Aumento do escrutínio desde a guerra com a Ucrânia

A campanha contra serviços de mensagens estrangeiros se intensificou drasticamente desde 2022. O governo russo acusa repetidamente plataformas como o Telegram de serem usadas pela Ucrânia para recrutar agentes e organizar grupos terroristas em seu território.

Assim, como parte de sua estratégia, o Kremlin já ordenou que autoridades e legisladores abandonem seus canais do Telegram e migrem para o "Max". Tudo para sua própria segurança. Ou pelo menos é o que dizem.

O primeiro golpe atingiu o WhatsApp e o Telegram

Antes mesmo de lançar o novo aplicativo, a Rússia já havia começado a degradar a experiência dos concorrentes. O Roskomnadzor anunciou "medidas para combater criminosos", o que resultou em uma restrição direcionada às chamadas de voz no WhatsApp e no Telegram.

Atualmente, as chamadas nessas plataformas quase não funcionam, já que usuários na Rússia relatam que o serviço está com problemas de zumbido e áudio distorcido. É uma maneira sutil, mas eficaz, de tornar os aplicativos menos úteis e frustrantes para sua base combinada de quase 200 milhões de usuários no país.

O regulador afirmou que a funcionalidade será restaurada quando os aplicativos "começar a cumprir a legislação russa", algo considerado extremamente improvável. Portanto, a degradação do serviço pode ser apenas um prelúdio para um desligamento completo.

O ecossistema está se fechando: a RuStore é obrigatória na Apple

O plano do Kremlin não se limita aos softwares de mensagens. Na mesma data em que o Max se torna obrigatório, 1º de setembro, outra imposição importante também entra em vigor: a RuStore, a loja nacional de aplicativos da Rússia, deve ser pré-instalada em todos os dispositivos Apple. Até agora, ela já era obrigatória em todos os dispositivos Android vendidos no país.

Com essa medida, a Rússia não apenas garante que seus aplicativos estejam nos dispositivos, mas também controla o principal canal de distribuição de software, fechando o ciclo em seu ecossistema digital soberano. Enquanto as autoridades insistem que essas medidas são necessárias para prevenir o terrorismo e proteger menores, para os oponentes, a realidade é diferente: a construção de um firewall digital massivo para isolar e monitorar seus cidadãos.

Não é o único país que aplica restrições

A China, com sua incapacidade de acessar os serviços do Google de seu território, é um exemplo claro de como os países tentam impor controles aos seus cidadãos . A Coreia do Norte é outro exemplo em que um único sistema operacional é imposto e o acesso à tecnologia é altamente controlado.

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