Nos Estados Unidos, e de modo geral nas principais economias ocidentais, a indústria manufatureira enfrenta um grave problema: não há mão de obra especializada para preencher as vagas deixadas pelos aposentados.
Jim Farley, CEO da Ford, destacou em entrevista ao podcast Office Hours: Business Edition que sua empresa tem "5 mil vagas para mecânicos. Uma oficina com elevador e ferramentas, e sem ninguém para trabalhar nela. Cobram 120 mil dólares por ano, mas leva cinco anos para aprender a fazer o trabalho. Essa falta de treinamento é o elo mais fraco da cadeia da Ford e da maioria do setor industrial.
Crise global de talentos
Um dos slogans de Trump quando assumiu o cargo foi reindustrializar o país. No entanto, por mais bilionários que sejam os investimentos que lhe permitiram construir fábricas enormes, serão em vão se não houver funcionários bem treinados para produzir. Esse problema pode ser extrapolado para qualquer país do mundo.
Durante sua participação no podcast, Farley lamentou: "Temos mais de um milhão de vagas em funções essenciais: serviços de emergência, transporte rodoviário, operários de fábrica, encanadores, eletricistas e técnicos especializados. É algo muito sério."
A situação não é exclusiva da Ford. Segundo informações publicadas pela NPR, com dados do Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA, havia quase 500 mil vagas não preenchidas no setor manufatureiro americano, mesmo com uma taxa de desemprego crescente de 4,3%. Isso indica que, embora haja desempregados, as empresas não conseguem contratá-los simplesmente porque eles não possuem a qualificação necessária para as funções exigidas.
Farley insiste que a realidade atual exige um compromisso sério com a formação profissional, visto que "aprender a desmontar um motor a diesel de uma caminhonete Ford Super Duty leva pelo menos cinco anos". Portanto, o CEO destaca que, sem um esforço determinado para promover escolas de formação técnica e oferecer salários competitivos, a economia industrial americana — e a de qualquer país que aspire à industrialização — está fadada ao fracasso.
A falta de investimento nesse tipo de formação é uma das principais causas da crise. Farley mencionou que "não temos escolas profissionalizantes. Não estamos investindo na educação de uma nova geração como meu avô, que começou do zero e construiu uma vida de classe média para sua família [trabalhando na linha de montagem de uma fábrica da Ford]."
Ensino profissionalizante
Na Espanha, por exemplo, a formação profissional passou por uma grande transformação graças às políticas de investimento, à maior oferta de cursos e ao envolvimento das empresas na formação daqueles que se tornarão seus funcionários. De fato, segundo o relatório 'Adecco Infoemployment 2024', em 46,96% das vagas de emprego publicadas no último ano, os candidatos precisavam ter um diploma do Ensino Profissionalizante.
O relatório sobre alunos do Ensino Profissionalizante do Ministério da Educação, Formação Profissional e Esportes revela que, no ano letivo de 2022-2023, 1.085.259 alunos estavam matriculados em cursos de formação profissional. Isso representa um aumento de 32,6% em comparação com os últimos cinco anos.
O fator demográfico tende a agravar ainda mais essa situação." Um fator crucial no número de vagas é o envelhecimento da força de trabalho: muitos trabalhadores com décadas de experiência estão se aposentando e não há jovens qualificados suficientes para ocupar seus lugares. Esse é um problema que afeta não apenas o setor industrial, mas todo o mercado de trabalho, tanto no setor público quanto no privado.
Observando que os jovens estão demonstrando maior interesse em cursos profissionalizantes, sugere-se que o número de vagas em setores com carência de mão de obra qualificada não aumentará no momento. A grande questão é se essa mudança geracional chegará a tempo e nas áreas que realmente precisam dela. Como destacou Jensen Huang, os novos milionários não serão engenheiros ou especialistas em IA, mas sim eletricistas, carpinteiros, pedreiros ou motoristas de ônibus.
Incentivos
Como disse Joe Biden quando lhe perguntaram como acabar com a escassez de mão de obra: "Paguem-lhes mais". Nunca três palavras fizeram tanto sentido.
Em suas tentativas de atrair mão de obra qualificada para suas linhas de montagem, o CEO da Ford adotou uma estratégia já implementada pelo fundador da empresa, Henry Ford, em 1914: aumentar os salários. Por isso, Farley se gabava de pagar US$ 120 mil a seus mecânicos. Como ele mesmo disse em uma entrevista a Walter Isaacson, Farley chegou a essa conclusão quando, durante as negociações de acordos trabalhistas, alguns de seus funcionários o abordaram para comentar: "Os jovens não querem trabalhar aqui. Jim, você paga US$ 17 por hora e eles estão muito estressados."
Para combater isso, a Ford aprovou um aumento salarial de 25% para seus funcionários ao longo de quatro anos, garantindo a todos um salário justo e um futuro profissional viável. Ter uma saída profissional com um bom salário e estabilidade no emprego é o melhor incentivo para que os jovens passem cinco anos de suas vidas se qualificando para uma profissão.
Imagem | Ford
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