Uma pesquisa internacional descobriu que o fim da última Era do Gelo, há cerca de 12 mil anos, foi impulsionado por um mecanismo de aquecimento oculto no Oceano Antártico. O estudo revelou que as águas profundas do oceano atuavam como um reservatório massivo, mantendo o carbono fixado e isolado da atmosfera, em um processo que reescreve a cronologia climática.
O papel do Oceano Antártico é crucial: durante a Era do Gelo, ele manteve o dióxido de carbono (CO2) aprisionado nas profundezas.
O cofre de carbono nas profundezas
Antes do aquecimento global, a maior parte do Oceano Antártico profundo estava preenchida por uma massa de água estagnada e rica em carbono. Cientistas confirmaram essa condição por meio da análise de núcleos de sedimentos, que mostraram uma "assinatura química exótica" que só poderia ter se desenvolvido se a água permanecesse quase imóvel por longos períodos.
Esse estado de estagnação transformou as profundezas do oceano em um verdadeiro "cofre de carbono".
Esse isolamento impediu que o CO2 fosse liberado na superfície, ajudando a manter os níveis atmosféricos de poluentes relativamente baixos durante o período glacial.
A mudança que destravou o aquecimento
O que ninguém esperava é que essa estrutura fosse desfeita por um mecanismo interno da Antártida. O aquecimento ao redor do continente causou o recuo do gelo marinho, gerando uma nova massa de água de fundo (AABW - Antarctic Bottom Water) com menor salinidade.
Essa AABW de baixa densidade começou a se expandir em duas fases claras. A expansão desestabilizou a massa de água estagnada e rica em carbono, forçando-a a subir e a se misturar com as camadas de superfície.
O resultado foi o escape do CO2 aprisionado para a atmosfera. Esse processo de liberação acelerou o aumento da temperatura global, impulsionando a transição do planeta para o período Holoceno.
Lições para o clima atual
Embora o estudo olhe para o passado, a descoberta tem implicações urgentes para o clima atual. Nas últimas cinco décadas, as águas profundas do Oceano Antártico aqueceram significativamente mais rápido do que grande parte dos oceanos.
Entender como o reservatório de carbono se destravou no passado é crucial para que os cientistas possam prever com mais precisão a rapidez com que o derretimento do gelo antártico hoje pode desencadear uma nova liberação de carbono armazenado, afetando as projeções futuras de aquecimento global.
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