A invenção que ela quase jogou no lixo virou tesouro e hoje salva milhares de vidas, inclusive protege soldados da Ucrânia e de todo o mundo

A química Stephanie Kwolek descobriu o Kevlar, uma fibra sintética leve e resistente muito utilizada em tecnologias de proteção, como coletes à prova de balas aos trajes usados na guerra da Ucrânia

Stephanie Kwolek no laboratório. Créditos: DuPont
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Laura Vieira

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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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Muitas das invenções que hoje são essenciais quase não aconteceram. O avião, por exemplo, ninguém acreditava que conseguiria se sustentar no céu, mas tornou-se essencial nos dias de hoje devido a capacidade de conectar o mundo rapidamente. O mesmo aconteceu com o micro-ondas, que foi inventado por acidente e tratado como insignificante, mas hoje é um item indispensável em quase todas as cozinhas do mundo. O Kevlar, fibra sintética extremamente forte, leve e resistente, segue essa mesma trajetória. No início, parecia não ter utilidade, mas acabou salvando milhares de vidas e continua salvando.

A responsável por essa invenção revolucionária foi a química Stephanie Kwolek, que descobriu o material em 1965, enquanto buscava novas fibras para pneus mais eficientes. Décadas depois, sua invenção segue sendo utilizada e ganhando novas funções. Hoje, a fibra está presente em trajes usados para proteger soldados contra estilhaços e ataques de drones, a principal ameaça da guerra na Ucrânia.

Conheça Stephanie Kwolek, a mulher que salvou milhares de vidas com uma invenção que quase foi parar no lixo

Antes de entrar para a história da ciência, Stephanie Kwolek era uma jovem interessada em moda e medicina. Filha de imigrantes poloneses e criada na Pensilvânia, nos Estados Unidos, ela não tinha dinheiro para cursar a faculdade na época. Então, decidiu buscar por um emprego temporário para juntar dinheiro e pagar faculdade de medicina. O que ela não sabia é que se apaixonaria por química, o que acabou mudando o rumo da sua vida,  

A jovem foi contratada em 1946 para trabalhar na DuPont, uma multinacional americana de ciência e tecnologia conhecida por ser uma gigante química. Ela ficou conhecida por apostar pesado em pesquisa e desenvolver materiais revolucionários, como nylon, teflon e  neoprene. A empresa também tinha uma política rara para a época, já que pagava o mesmo salário para homens e mulheres em funções técnicas. Foi nesse ambiente de intensa pesquisa e inovação que Stephanie acabou desenvolvendo o Kevlar, uma fibra que ninguém queria testar e que quase foi descartada antes de se tornar um dos materiais mais importantes do mundo que já salvou milhares de vidas.

“Tive a sorte de fazer algo que beneficiaria a humanidade. Foi uma descoberta extremamente gratificante. Acho que não há nada que traga tanta satisfação e felicidade quanto salvar a vida de alguém.” Stephanie Kwolek, em entrevista à Lemelson Foundation

Devido a invenção, Stephanie Kwolek recebeu alguns dos maiores reconhecimentos da ciência e da engenharia, como a entrada no National Inventors Hall of Fame e a Medalha Nacional de Tecnologia dos Estados Unidos, uma homenagem rara para inventores. Stephanie Kwolek faleceu em 2014, aos 90 anos. 

Kevlar é uma fibra que virou um dos materiais mais fortes do mundo

A invenção do Kevlar começou em 1964, quando Stephanie trabalhava na busca por uma nova fibra leve e resistente para pneus de carro. Acabou que um de seus experimentos gerou uma solução líquida demais, além de estranhamente rala e turva, algo bem incomum na criação de fibras. Técnicos do laboratório se recusaram a testar a solução, acreditando que o líquido nunca iria centrifugar e ainda entupiria os equipamentos.

Stephanie, por outro lado, insistiu que o material fosse testado. E quando isso aconteceu, a surpresa foi imediata: a fibra era extremamente forte, rígida e resistente ao calor. E foi aí que surgiu o Kevlar, uma fibra sintética de para-aramida que suporta impactos cinco vezes maiores que o aço, mas é muito mais leve.

Devido às suas características, como a resistência e leveza, o material passou a ser usado em coletes à prova de balas, mas também na indústria automotiva (pneus, freios e blindagem), astronomia (componentes de aeronaves e trajes especiais) e cabos de fibra óptica. 

Kevlar passou a ser usado em trajes para proteger soldados na Ucrânia de bombardeios na guerra

Desenho de macacão ucraniano. O macacão ucraniano resistente a estilhaços é reforçado em regiões mais sensíveis. Créditos: The Telegraph

Muitos anos depois de criação dessa fibra, o Kevlar continua sendo utilizado para diversas funções. Uma delas é na guerra na Ucrânia. Com drones lançando explosivos a todo momento sobre o território, a principal ameaça aos soldados são os estilhaços dos bombardeios.  

Por isso, o major ucraniano Oleh Shyriaiev desenvolveu um novo traje de combate feito com Kevlar e outros materiais de absorção de impacto. O macacão cobre quase todo o corpo dos soldados, reforça articulações vulneráveis e é projetado para ser usado junto com coletes tradicionais. O objetivo é oferecer mobilidade e proteção contra explosões aéreas, algo que se tornou comum no campo de batalha ucrnaiano. 


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