Nem tanque, nem soldado: no corredor mais letal do front, robôs terrestres já entregam 90% da munição na "zona da morte" da Ucrânia

Transportar suprimentos, equipamentos e até feridos pela Ucrânia é um desafio diário contra drones e artilharia russos. A cada deslocamento, caminhões, ambulâncias e até equipes a pé viram alvos fáceis do reconhecimento aéreo feito por drones inimigos. Contudo, os ucranianos tiveram uma ideia muito inteligente que passou a fazer diferença na guerra. Eles encomendaram robôs terrestres para atravessar a faixa mais perigosa da linha de frente, entre Pokrovsk e Myrnohrad, o trecho que os soldados chamam de “zona de morte”. 

O uso desse tipo de robôs tem aumentado consideravelmente nos últimos meses.  Segundo oficiais em Pokrovsk, cerca de 90% dos suprimentos que chegam às trincheiras hoje dependem desse tipo de veículo. Em algumas brigadas, eles já são responsáveis por transportar a maior parte da munição, água e combustível até locais marcados por fogo constante. 

Robô terrestre é enviado para zona de guerra para auxiliar tropas ucranianas

A cena virou rotina em Pokrovsk, cidade estratégica no leste da Ucrânia que é o epicentro da guerra. Bem no meio da madrugada, quando a visualização não é tão boa, uma van descarrega um pequeno veículo sobre esteiras que anda sozinho, do tamanho de um carrinho de golfe. Em poucos segundos, operadores posicionados a quilômetros dali assumem o controle do pequeno veículo e iniciam o trajeto até posições estratégicas.

Esses pequenos veículos, conhecidos como UGVs (veículos terrestres não tripulados), foram incorporadas às brigadas ucranianas para realizar tarefas que se tornaram arriscadas demais para soldados. Em cidades como Pokrovsk e Myrnohrad, os robôs cruzam áreas vigiadas 24 horas por dia, onde qualquer movimento humano pode ser detectado e atingido por drones aéreos ou tropas russas.

Os robôs terrestres são controlados a distância por controle remoto. Créditos: NurPhoto / GettyImages

A função principal deles é a logística de sobrevivência, Eles têm a função de transportar munição, comida, água, combustível e equipamentos para soldados que atuam na linha de frente. Contudo, à medida que o combate se intensificou e o resgate ficou cada vez mais difícil, eles passaram a executar missões ainda mais delicadas, como evacuação de feridos de pontos arriscados. 

Com rotas quase totalmente bloqueadas e drones no céu que observam tudo, os robôs terrestres se tornaram uma alternativa de transporte segura em meio a guerra. Unidades que antes precisavam deslocar grupos inteiros apenas para levar granadas ou caixas de água, agora podem fazer o mesmo com um único robô, sem colocar vidas em risco. Mesmo assim, a taxa de sobrevivência das máquinas é baixa. Em média, só um em cada três veículos consegue completar a missão. Eles são atingidos por minas terrestres, drones kamikaze ou detectados por sensores térmicos. 

Saiba tudo sobre veículo terrestre não tripulado (UGV) 

Existem diferentes modelos de veículo terrestre não tripulado, dos mais simples aos mais sofisticados. Créditos: SOPA Images /GettyImages

Os robôs terrestres usados pela Ucrânia variam de modelos simples, como plataformas leves sobre esteiras com capacidade de transporte, até versões maiores e mais sofisticadas, equipadas com sensores, módulos de comunicação reforçados e blindagem básica. A grande vantagem do equipamento é substituir humanos em tarefas de alto risco.  Dependendo do tipo de robô terrestre, eles podem:

• Transportar de 150 a 500 quilos de carga, inclusive munição pesada; 
• Atravessar terrenos minados, lamacentos e áreas destruídas por bombardeio; 
• Operar durante a noite com visão térmica;
• Resgatar feridos em locais arriscados;

Um dos modelos mais usados no front é o Termit, um veículo terrestre não tripulado modular e multifuncional desenvolvido e utilizado pelas forças armadas da Ucrânia. Ele é pequeno, silencioso e capaz de carregar cerca de 200 a 300 kg, sendo ideal para mover suprimentos.