Os dados sobre a violência no México são devastadores. O crime organizado e os narcotraficantes têm se transformado em uma força poderosa no território mexicano. Não apenas eles, mas também grupos menores que, inclusive, conseguiram mudar os hábitos da população (como, por exemplo, carregar celulares falsos para entregar esses aparelhos em casos de assaltos).
A violência tornou certas ruínas maias inacessíveis, e os narcotraficantes até piratearam antenas de Internet, fazendo com que os cidadãos paguem diretamente a eles.
Tem-se debatido se dar mais poder ao exército reduziria a criminalidade, mas os dados do governo mexicano são alarmantes. Além disso, a visão das empresas é igualmente preocupante: 13% delas consideram que o crime organizado assumiu o controle parcial ou total de suas operações.
Os dados são impressionantes
São os números do último Sondeo de Seguridad Empresarial publicado pela American Chamber Mexico. Esta é a Câmara de Comércio do país, que conta com membros influentes como AES, Amazon, American Express, AT&T, Coca-Cola, PepsiCo, HP e FedEx, entre outras grandes empresas. Na nova pesquisa, pouco mais da metade das empresas são nacionais, e quatro em cada dez têm mais de 1.000 funcionários. Quem respondeu à pesquisa são executivos de alto escalão, com 26% sendo CEOs e 52% ocupando cargos de diretoria.
Ou seja, eles sabem do que estão falando quando se referem às suas empresas, e os números são, como mencionamos, absolutamente alarmantes:
- 6 em cada 10 empresas se consideram afetadas pela criminalidade, tanto comum quanto organizada.
- A tendência dos anos anteriores se mantém, e as empresas veem a insegurança como um custo operacional adicional.
- 58% das empresas investem entre 2% e 10% de seu orçamento em segurança.
- E 8 em cada 10 empresas oferecem cursos de segurança para seus funcionários, tanto em segurança física quanto tecnológica. A cibersegurança também é uma grande preocupação.
Os pontos críticos
Além da visão geral, o relatório aprofunda vários aspectos interessantes. Um deles são os principais focos de preocupação das empresas no combate ao crime organizado. A segurança para os funcionários e suas famílias continua sendo a principal prioridade. Praticamente todos os itens de preocupação aumentaram desde a pesquisa de 2021, exceto a segurança no transporte. Houve, inclusive, um aumento significativo na preocupação com a cibersegurança.
Um aspecto que chama a atenção é a questão da venda e distribuição de produtos. Embora esteja em último lugar na lista de preocupações, houve um aumento em relação ao período anterior, sendo talvez o dado mais surpreendente de todo o relatório.
Cerca de 12% das empresas consideram que o crime organizado assumiu o controle parcial do processo de distribuição e venda de seus produtos, e 1% acredita que esse controle foi total. É um dado impactante, e, embora 87% das empresas considerem que os criminosos não assumiram o controle completo, elas afirmam que foram, de alguma forma, afetadas pela situação.
E o governo?
É difícil de aceitar que uma empresa considere que a maior parte ou a totalidade de um segmento de seu negócio esteja sob o controle do crime organizado. Levando em conta que as empresas participantes da pesquisa representam 21% do PIB nacional, isso é algo bastante significativo.
Além disso, 81% dos participantes afirmam que não há coordenação entre as diferentes instâncias do governo responsáveis pela segurança.
No El Universal, podemos ver que Guillermo Bernal, diretor geral de Relações Externas e Comitês da AMCHAM, afirma que cada vez menos empresas estão dispostas a notificar as autoridades mexicanas sobre sua situação de insegurança.
Sem confiança na polícia
A desconfiança nas forças de segurança do México é muito evidente e varia de acordo com o departamento:
- 75% têm pouca ou nenhuma confiança na polícia municipal.
- 67% têm pouca ou nenhuma confiança na polícia judicial.
- 29% têm pouca ou nenhuma confiança na polícia estadual.
Segurança privada
Essa desconfiança nas autoridades leva as empresas a buscar outras formas de proteção. Curiosamente, o relatório dedica várias páginas à publicidade de empresas de segurança privada. Além disso, o documento revela que 59% das empresas contam com um Departamento de Segurança Corporativa.
Em 40% dos casos, esse departamento responde diretamente à diretoria, e as áreas em que mais se investe em segurança privada são as seguintes:
Os estados que mais preocupam
O relatório também revela os locais onde as empresas se sentem mais inseguras. Esses estados concentram a maioria das empresas, e a lista é semelhante à de 2021, embora com algumas mudanças notáveis:
Talvez o caso mais notável seja o da Cidade do México, que caiu do TOP 3 da lista dos locais mais preocupantes, agora ocupando o sétimo lugar. Também há novidades, como o estado de Guerrero, que não aparecia na lista anterior.
E os que menos se preocupam
Por outro lado, estes são os lugares onde a criminalidade contra as empresas causa menos preocupação atualmente. Esses estados têm uma presença menor de grandes empresas em comparação com a lista anterior:
Diminui o interesse no México
Toda essa situação está levando algumas empresas a reduzirem seus investimentos no México. Cerca de 17% delas diminuíram seus investimentos no país nos últimos anos, 9% transferiram suas operações para estados mais seguros (e também há casos de empresas que deixaram completamente o país). Um dado preocupante é que 21% das empresas suspenderam suas operações em algum estado devido à falta de segurança.
Sem dúvida, como mencionamos no início do artigo, esses dados não colocam o governo e as instituições policiais em uma boa posição, pois não são apenas os trabalhadores das empresas que percebem a insegurança, mas também os próprios CEOs e diretores.
Esses números são alarmantes, especialmente se considerarmos que o México tem o potencial de se tornar a porta de entrada da China para os Estados Unidos, o que poderia impulsionar o comércio se os problemas de segurança forem resolvidos.
Imagens | AMCHAM, Nación321, JonathanCE15
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